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Sínodo admite uso de “discernimento” para acolher fiéis divorciados na igreja

Bispos católicos se reuniram no Sínodo da Família em Roma | Alessandro Bianchi/Reuters
Bispos católicos se reuniram no Sínodo da Família em Roma (Foto: Alessandro Bianchi/Reuters)

Bispos católicos reunidos no Sínodo sobre a Família, em Roma, concordaram em uma maior abertura da igreja em relação aos divorciados em segunda união, mas mantiveram a atual linha pastoral adotada em relação aos homossexuais. O documento com as decisões do encontro, que durou três semanas, foi divulgado neste sábado (24).

A maioria dos padres sinodais votou a favor que os divorciados “recasados” se submetam a um caminho de discernimento para avaliar se poderão ter acesso ou não à confissão e à comunhão. Os artigos 85 e 86 do relatório final do sínodo trataram da questão. O documento traz, além de propostas, alguns critérios que devem ser seguidos pelo bispo local e pelos casais que solicitam o retorno aos sacramentos.

“Precisamos avaliar aqueles que foram abandonados injustamente e outros que, por grave culpa, destruiram um matrimônio canonicamente válido”, afirma trecho do artigo 85 do relatório.

Foram 178 votos a favor e 80 votos contra para o artigo 85, no qual são estabelecidos os critérios de acompanhamento pastoral desses casais e 190 votos a favor e 64 contra para o artigo 86, em que se cogita a instauração de um foro interno, conduzido por um padre, para avaliar caso por caso.

Apesar da maioria ter aprovado a abertura, não se trata de um parecer definitivo da Igreja Católica sobre a questão, uma vez que cabe ao papa decidir qual via deve ser adotada a partir das sugestões apresentadas pelos bispos representantes dos cinco continentes.

Homossexuais

Como já adiantado pela Gazeta do Povo na última sexta-feira (23), o tema foi pouco mencionado no texto, que no artigo 76 do documento, deteve-se apenas a solicitar uma maior atenção às famílias das quais os homossexuais são membros e a reforçar que se respeitem a dignidade dessas pessoas, independente de suas escolhas, tomando como base documentos já publicados pela Igreja que abordam a questão.

Além disso, os bispos reafirmaram a posição do catolicismo contra o casamento gay, repetindo o que já foi tratado no instrumentum laboris, o documento de trabalho do sínodo, e no relatório final do sínodo extraordinário de 2014, também dedicado à família. Foram 221 votos a favor do artigo e 37 contra.

“Sobre a homossexualidade, a Igreja já se manifestou no Catecismo da Igreja Católica e as regras pastorais já estão claras o suficiente. Além disso, toda pessoa merece respeito, mesmo que certos comportamentos sejam vistos como contrários à bíblia”, disse o cardeal austríaco Chistoph Shonborn.

Formação antes e depois do casamento

A este item, presente nos artigos 57, 58, 59, 60 e 61 do parecer final do sínodo, os padres sinodais deram uma particular atenção, já que, no decorrer do encontro, o assunto tomou grande parte dos debates tanto em plenário quanto nos círculos menores (grupos linguísticos).

O texto pede maior comprometimento com a fé por parte dos noivos, a reforma da catequese matrimonial antes e no decorrer dos primeiros anos de matrimônio, uma formação sexual consistente que esteja de acordo com o ensinamento da igreja, além de uma melhor preparação dos sacerdotes que acompanham os casais, inclusive sugerindo que as paróquias criem uma secretaria especial para atender as famílias.

“O matrimônio cristão não pode reduzir-se a uma tradição cultural ou a uma simples convenção jurídica, é um verdadeiro chamado de Deus. São necessários percursos formativos que acompanhem a pessoa e o casal de modo que os conteúdos da fé se unam a uma experiência de vida. A eficácia dessa ajuda requer também que seja melhorada a catequese matrimonial, muitas vezes pobre de conteúdo”, ressalta o documento.

Outros temas contemplados

O texto possui 94 artigos, os quais foram votados um a um, neste sábado, pelos 270 padres sinodais que participam do encontro, iniciado no dia 4 de outubro, cujo encerramento acontece neste domingo (25), com uma missa presidida pelo Papa Francisco. Tratou-se da família no contexto sócio-econômico, dos imigrantes, dos idosos, do papel do homem da mulher na sociedade e sobre procriação, fertilidade, aborto e eutanásia, sem qualquer sugestão de mudança em relação ao pensamento da Igreja sobre essas questões.

“A Igreja Católica discutiu, por dois anos, todos os aspectos positivos e aqueles difíceis relacionados à família. Isso é algo notável para nosso tempo. O êxito desse sínodo, para mim, é um grande sim à família. A família não é um modelo ultrapassado”, disse Schonborn.

Ao final do texto, os bispos pedem um parecer final do papa sobre o que foi abordado pelo documento, o que poderá acontecer através de uma exortação apostólica pós-sinodal, documento redigido pelo papa que tradicionalmente vem publicado meses após um sínodo.

O discurso de encerrramento do Papa

Ao final da votação do texto, o papa Francisco fez uma síntese do que significou o sínodo para ele e para toda a Igreja. Em seu discurso, o pontífice falou de misericórdia e verdade, de amor e perdão.

“Demos provas da vitalidade da Igreja Católica, que não tem medo de abalar as consciências anestesiadas ou sujar as mãos discutindo, animada e francamente, sobre a família”, salientou.

Francisco também fez uma interpretação do que significa “amar a doutrina”, condenando toda espécie de superficialidade na aplicação dela.

“Os verdadeiros defensores da doutrina não são os que defendem a letra, mas o espírito; não as ideias, mas o homem; não as fórmulas, mas a gratuidade do amor de Deus […] Isso não significa diminuir a importância das fórmulas, das leis e dos mandamentos divinos, mas exaltar a grandeza do verdadeiro Deus”, destacou.

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