O grupo de direitos humanos Anistia Internacional (AI) disse nesta quarta-feira (6) que as forças de segurança sírias podem ter cometido crimes contra a humanidade durante o cerco a uma cidade opositora em maio. A entidade cita relatos de testemunhas sobre mortes na prisão, tortura e detenções arbitrárias.
O relatório da Anistia se concentrou na repressão em Talkalakh, cidade perto da fronteira com o Líbano que foi invadida por unidades de tanques do Exército, forças de segurança e homens armados ligados ao regime após semanas de protestos pedindo a queda do presidente Bashar Assad. Alguns ativistas afirmam que o número de mortos em Talkalakh foi de 36. Milhares de pessoas também deixaram o Líbano para fugir da ofensiva.
O relatório do grupo sediado em Londres pode intensificar a pressão internacional sobre o governo de Assad, que realiza ataques em várias frentes contra o levante que já dura quatro meses. Dentre as medidas está o envio, nesta semana, de mais tropas para uma série de cidades ao longo da fronteira com a Turquia, vistas como potenciais refúgios contrários ao governo.
A Anistia pediu ao Conselho de Segurança da Organização das Nações Unidas (ONU) para enviar o caso para o Tribunal e Criminal Internacional. "Os relatos que ouvimos das testemunhas dos eventos em Talkalak mostram um quatro perturbador de abusos sistemáticos e dirigidos para esmagar dissidentes", disse Philip Luther, diretor-adjunto da Anistia para Oriente Médio e África.
Testemunhos
Durante os ataques, ocorridos em maio, moradores da cidade de 70 mil habitantes relataram à Associated Press cenas de execuções e mau cheiro de corpos em decomposição nas ruas. Talkalakh é cercada por vilas cheias de pessoas leais a Assad, pertencentes à seita alawita. A Anistia citou testemunhas que disseram que as forças sírias dispararam contra famílias em fuga e contra ambulâncias. Uma dessas pessoas disse que soldados usavam cigarros acessos para queimar a nuca de pessoas detidas.
Segundo o relatório, pelo menos nove pessoas morreram na prisão, dentre elas oito que foram fatalmente feridas ao receberem ordens para deixar suas casas. De acordo com a Anistia, alguns dos familiares que foram identificar os corpos de seus filhos em Talkalakh foram forçados a assinar um documento dizendo que as vítimas mortos foram assassinadas por gangues armadas.
A organização realizou entrevistas no Líbano e por telefone com mais de 50 pessoas. O grupo, assim como a maior parte da mídia estrangeira, não recebeu permissão para entrar na Síria. O documento diz que os ataques "parecem ser parte de uma série de amplos e sistemáticos ataques contra a população civil", o que constituiria crimes contra a humanidade.
"A maioria dos crimes descritos neste relatório recairiam na jurisdição do Tribunal Criminal Internacional", disse Luther. "Mas, primeiro, o Conselho de Segurança deve encaminhar a situação na Síria aos promotores do tribunal." Quatro países europeus apresentaram um esboço de resolução no Conselho de Segurança para a condenação da repressão síria aos protestos, mas Rússia e China indicaram que vetariam o documento.
Também nesta quarta-feira, o embaixador dos Estados Unidos na Síria disse que no início deste ano vários cidadãos norte-americanos, dentre eles turistas, moradores e um diplomata foram mantidos pelas forças de seguranças sírias em postos de verificação sem a notificação da embaixada dos Estados Unidos.
"Tendo em vista esses incidentes e a incerteza e volatilidade da situação atual, o governo dos Estados Unidos recomenda que os cidadãos norte-americanos não viagem para a Síria agora e a embaixada reduziu seus funcionários para diminuir o número de pessoas expostas ao risco", disse Robert Ford em comunicado.
"Até que este risco seja reduzido, não apenas para diplomatas mas para todos os cidadãos norte-americanos, a advertência contra viajar para a Síria continua valendo", diz o documento postado no site da embaixada. As informações são da Associated Press.
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