Os haitianos são unânimes quando dizem que nada vai andar no país enquanto a situação política não for estabilizada. Há tanto para se fazer, após o terremoto que desabrigou 1,5 milhão de pessoas e trouxe um prejuízo de US$ 7,8 bilhões ao país, que parece loucura estender o processo eleitoral para além dos prazos, fruto de protestos populares e, dizem alguns, do atiçamento do próprio governo.
Assista ao vídeo produzido pela reportagem da Gazeta do Povo no Haiti
A estabilidade proveniente da instalação pacífica do próximo presidente poderia estimular empresas como as brasileiras Vicunha, Paramount e Coteminas a levar adiante investimentos que planejam no país, e, consequentemente, a criação de vagas de emprego.
Mas outros problemas também atrasam o desenvolvimento e recuperação do Haiti. Um deles é o fato de boa parte das crianças não frequentar a escola, que é paga. E quem consegue terminar os estudos e se capacita em uma profissão enfrenta a ?tentação? do exterior. ?Acredito que de 65% a 75% das pessoas com alguma habilidade técnica estejam fora do país?, lamenta o consultor de negócios internacionais haitiano Lionel Delatour.
Para quem fica no Haiti, falta treinamento. A ponto de a ONG brasileira Viva Rio precisar levar um time de faxineiros, devidamente treinados, para limpar banheiros num campo de desabrigados cheio de mão de obra ociosa.
?Este é um dos problemas que enfrentamos por aqui, a falta de mobilização?, diz uma funcionária da ONG Oxfam.
Por isso, a presença de organizações internacionais no país caribenho é vista como muito positiva, não só pela ajuda emergencial que estão prestando, mas também pelo ensino de novas funções profissionais.
Treinamento
A Viva Rio, que estava no Haiti desde 2004 e, quando ocorreu o terremoto, viu a demanda por seu trabalho ?explodir?, emprega hoje 300 haitianos e mais 600 pessoas temporárias a cada três meses.
A entidade capacita a população para tarefas desde as mais simples ? limpeza de ruas, coleta de escombros ? até a construção de complexos sistemas de reaproveitamento.
É o caso do biodigestor erguido pela ONG em escolas e acampamentos de deslocados. Trata-se de banheiros ? artigo raro no país ? ligados a um coletor de dejetos humanos. Ali a decomposição gera água rica em material orgânico, ótima para irrigação de plantas, e gás metano, que em geral abastece cozinhas.
Inflação
Um efeito colateral da presença maciça de ONGs no Haiti é a demanda por serviços. Além de cerca de 10 mil funcionários ou voluntários das organizações não governamentais, há 12 mil civis e militares sob o guarda-chuva da ONU no país.
Aluguel de casas, contratação de faxineiros e motoristas, entre outras necessidades dos ?internacionais? acabam abrindo vagas de trabalho aos haitianos ? mas, por outro lado, inflacionam os preços.
Confira mais fotos