A região central de Atenas se transformou em palco de guerra. Mais de 200 manifestantes ficaram feridos em confrontos com a polícia durante os protestos contra a aprovação do plano de ajuste do governo| Foto: Filippo Monteforte/AFP

Opinião

Medidas austeras devem agravar tensões sociais no país

Carlos Magno Esteves Vasconcellos, professor de Relações Internacionais do Centro Universitário Curitiba (Unicuritiba), diz que seria preciso saber o grau de comprometimento dos bancos franceses e alemães diante da dívida grega para ter uma ideia mais clara da situação e do que fazer com ela.

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Cenas da Grécia lembram crise argentina de 2001

Buenos Aires - Manifestações, greves, confrontos nas ruas, ratings rebaixados, prêmio de risco nas alturas. O cenário atual da Grécia é bem co­­nhecido dos argentinos, que fo­­ram às ruas em dezembro de 2001 para pedir ao governo: "Que se vayan todos" (saiam todos). "Cada vez que vejo as imagens e avalio o cenário financeiro da Grécia, acho que se parece mais e mais com a Argentina", compara o economista Miguel Kiguel, da consultoria EcoViews.

Quando a revolta popular explodiu, na madrugada do dia 20 de dezembro de 2001, o então presidente Fernando De la Rúa (União Cívica Radical), eleito em outubro de 1999, deixou a Casa Rosada em um helicóptero para fugir da multidão na Praça de Maio, palco das grandes manifestações populares no país.

O default da dívida da Argen­­tina foi anunciado três dias de­­pois, acompanhado de um largo sorriso do então presidente Adol­­fo Rodríguez Saá, que durou so­­mente uma semana no cargo. Após a renúncia de De la Rúa, a Argen­­ti­­na enfrentou uma sucessão de qua­­tro presidentes em apenas um mês.

As semelhanças entre o quadro atual da Grécia e a situação da Argentina antes do calote de 2001 chamam atenção dos economistas. Kiguel, da consultoria Eco­­View, afirma que o estado da economia grega é até pior que o da Argentina. "O problema da Grécia é que o país tem uma dívida maior em relação ao PIB e não tem moeda própria, situação que se complica com a saída de depósitos e a falta de competitividade", afirma o economista.

Quando a Argentina decretou default, considerado o maior e o mais longo da história, a dívida soberana era de US$ 144,2 bilhões e representava 54% do Produto Interno Bruto (PIB). Atualmente, a dívida da Grécia chega a quase 150% do PIB.

O ex-presidente do Banco Cen­­tral da Argentina (2002) Mario Blejer também considera a situação grega pior do que a de dez anos atrás da Argentina. "A Grécia terá mais dificuldades para recuperar sua economia devido à im­­possibilidade de desvalorizar sua moeda", diz. Para ele, a ideia de fazer uma renegociação da dívida que eventualmente só alongue os prazos dos bônus gregos sem redução no valor nominal não resolverá o problema.

Atenas - Em meio a um dos dias mais conturbados desde o início da crise, o Parlamento da Grécia aprovou ontem um novo plano de austeridade que prevê uma economia de até 28,3 bilhões de euros (R$ 63 bilhões) aos cofres públicos por meio de cortes de gastos e aumento de impostos até 2015. Nas ruas, milhares de jovens atearam fogo a prédios públicos em violentos protestos.

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Ao menos 192 manifestantes foram tratados em hospitais lo­­cais por problemas respiratórios em função das bombas de gás lacrimogêneo lançadas pela polícia. Outros 25 jovens ficaram feridos e ao menos 40 policiais sofreram ferimentos leves.

Concentrados na Praça Syn­­tag­­ma (Constituição, em grego), os manifestantes atearam fogo a uma agência de correios e atacaram também a sede do Ministério das Finanças, localizados na re­­gião. Um hotel de luxo no entorno do local decidiu retirar todos os hóspedes. Os bombeiros disseram que não poderiam conter o fogo.

Num voto apertado, o pacote foi aprovado com 155 votos a favor, 138 contra e 7 abstenções ou faltas. O governo precisava de uma maioria simples, de 151 dos 300 votos da Casa. Membros da oposição questionaram se o governo tem condições de arcar com as consequências das medidas para a sociedade.

Os cortes eram exigidos para que a quinta parcela – no valor de 12 bilhões de euros – de um pacote de 110 bilhões de euros fosse liberada para o país. Um se­­gundo pacote de 110 bilhões de euros já foi solicitado pelo governo grego.

O recém-nomeado ministro das Finanças, Evangelos Ve­­ni­­ze­­los, defendeu a repressão aos protestos e saudou os cortes que possibilitam a continuidade do resgate financeiro negociado com a União Europeia (UE), Fundo Mo­­netário Internacional (FMI) e Ban­­co Central Europeu (BCE).

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A aprovação era esperada pelo mercado financeiro, em especial o europeu, que acompanhou o voto com atenção e preocupação – caso as medidas não fossem aprovadas, a Grécia não receberia o dinheiro necessário para evitar um calote da dívida que afetaria toda a zona do euro e que poderia chegar tão cedo quanto mês que vem.

O pacote era defendido há me­­ses pelo governo, que enfrentou greve geral, manifestação e violência nas ruas de Atenas contra os novos cortes.

O premiê grego, Georges Pa­­pan­­dreou, se comprometeu a fa­­zer todo o possível para evitar o impacto da dívida do país.

"Faremos tudo para evitar ao país o que supõe a bancarrota", declarou, ao recordar o risco de que, neste caso, não poderiam ser pagos salários ou aposentadorias.

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