Opinião
Medidas austeras devem agravar tensões sociais no país
Carlos Magno Esteves Vasconcellos, professor de Relações Internacionais do Centro Universitário Curitiba (Unicuritiba), diz que seria preciso saber o grau de comprometimento dos bancos franceses e alemães diante da dívida grega para ter uma ideia mais clara da situação e do que fazer com ela.
Cenas da Grécia lembram crise argentina de 2001
Buenos Aires - Manifestações, greves, confrontos nas ruas, ratings rebaixados, prêmio de risco nas alturas. O cenário atual da Grécia é bem conhecido dos argentinos, que foram às ruas em dezembro de 2001 para pedir ao governo: "Que se vayan todos" (saiam todos). "Cada vez que vejo as imagens e avalio o cenário financeiro da Grécia, acho que se parece mais e mais com a Argentina", compara o economista Miguel Kiguel, da consultoria EcoViews.
Quando a revolta popular explodiu, na madrugada do dia 20 de dezembro de 2001, o então presidente Fernando De la Rúa (União Cívica Radical), eleito em outubro de 1999, deixou a Casa Rosada em um helicóptero para fugir da multidão na Praça de Maio, palco das grandes manifestações populares no país.
O default da dívida da Argentina foi anunciado três dias depois, acompanhado de um largo sorriso do então presidente Adolfo Rodríguez Saá, que durou somente uma semana no cargo. Após a renúncia de De la Rúa, a Argentina enfrentou uma sucessão de quatro presidentes em apenas um mês.
As semelhanças entre o quadro atual da Grécia e a situação da Argentina antes do calote de 2001 chamam atenção dos economistas. Kiguel, da consultoria EcoView, afirma que o estado da economia grega é até pior que o da Argentina. "O problema da Grécia é que o país tem uma dívida maior em relação ao PIB e não tem moeda própria, situação que se complica com a saída de depósitos e a falta de competitividade", afirma o economista.
Quando a Argentina decretou default, considerado o maior e o mais longo da história, a dívida soberana era de US$ 144,2 bilhões e representava 54% do Produto Interno Bruto (PIB). Atualmente, a dívida da Grécia chega a quase 150% do PIB.
O ex-presidente do Banco Central da Argentina (2002) Mario Blejer também considera a situação grega pior do que a de dez anos atrás da Argentina. "A Grécia terá mais dificuldades para recuperar sua economia devido à impossibilidade de desvalorizar sua moeda", diz. Para ele, a ideia de fazer uma renegociação da dívida que eventualmente só alongue os prazos dos bônus gregos sem redução no valor nominal não resolverá o problema.
Atenas - Em meio a um dos dias mais conturbados desde o início da crise, o Parlamento da Grécia aprovou ontem um novo plano de austeridade que prevê uma economia de até 28,3 bilhões de euros (R$ 63 bilhões) aos cofres públicos por meio de cortes de gastos e aumento de impostos até 2015. Nas ruas, milhares de jovens atearam fogo a prédios públicos em violentos protestos.
Ao menos 192 manifestantes foram tratados em hospitais locais por problemas respiratórios em função das bombas de gás lacrimogêneo lançadas pela polícia. Outros 25 jovens ficaram feridos e ao menos 40 policiais sofreram ferimentos leves.
Concentrados na Praça Syntagma (Constituição, em grego), os manifestantes atearam fogo a uma agência de correios e atacaram também a sede do Ministério das Finanças, localizados na região. Um hotel de luxo no entorno do local decidiu retirar todos os hóspedes. Os bombeiros disseram que não poderiam conter o fogo.
Num voto apertado, o pacote foi aprovado com 155 votos a favor, 138 contra e 7 abstenções ou faltas. O governo precisava de uma maioria simples, de 151 dos 300 votos da Casa. Membros da oposição questionaram se o governo tem condições de arcar com as consequências das medidas para a sociedade.
Os cortes eram exigidos para que a quinta parcela no valor de 12 bilhões de euros de um pacote de 110 bilhões de euros fosse liberada para o país. Um segundo pacote de 110 bilhões de euros já foi solicitado pelo governo grego.
O recém-nomeado ministro das Finanças, Evangelos Venizelos, defendeu a repressão aos protestos e saudou os cortes que possibilitam a continuidade do resgate financeiro negociado com a União Europeia (UE), Fundo Monetário Internacional (FMI) e Banco Central Europeu (BCE).
A aprovação era esperada pelo mercado financeiro, em especial o europeu, que acompanhou o voto com atenção e preocupação caso as medidas não fossem aprovadas, a Grécia não receberia o dinheiro necessário para evitar um calote da dívida que afetaria toda a zona do euro e que poderia chegar tão cedo quanto mês que vem.
O pacote era defendido há meses pelo governo, que enfrentou greve geral, manifestação e violência nas ruas de Atenas contra os novos cortes.
O premiê grego, Georges Papandreou, se comprometeu a fazer todo o possível para evitar o impacto da dívida do país.
"Faremos tudo para evitar ao país o que supõe a bancarrota", declarou, ao recordar o risco de que, neste caso, não poderiam ser pagos salários ou aposentadorias.