Crianças somalis subnutridas no centro pediátrico de um hospital em Mogadíscio. Um soldado morreu e cerca de doze moradores ficaram feridos na sexta-feira quando três caminhões com ajuda alimentar foram saqueados em Mogadíscio, capital da Somália, segundo testemunhas| Foto: REUTERS/Ismail Taxta

Ao menos dez somalis, incluindo refugiados, foram mortos nesta sexta-feira quando três caminhões com ajuda alimentar foram saqueados em Mogadíscio, capital da Somália, por tropas e moradores, disseram duas testemunhas.

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"Ao menos 10 pessoas morreram e outras 15 ficaram feridas", informou Aden Kusow, um refugiado. "Sete deles morreram no acampamento. Os outros três morreram quando fugiam. A maior parte dos mortos são refugiados", acrescentou.

Mais cedo, uma testemunha havia informado que viu um soldado ser morto e cerca de doze refugiados ficarem feridos no acampamento de Badbaado, que abriga cerca de 30 mil refugiados.

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As tropas do governo fizeram disparos e lutaram entre si enquanto carregavam carrinhos de mão e micro-ônibus com a ajuda alimentar emergencial enviada pelo Programa Mundial de Alimentos (PMA) da ONU.

"(As forças do governo) saquearam todos os caminhões. Tenho sorte de minha família estar a salvo. Não sei para onde estou indo. Estou correndo para salvar a vida", disse Aliyow Hussein, 40 anos, pai de três filhos, numa rua em frente ao acampamento.

"Peguei só minha lona de plástico e este colchão. Eu vi um soldado morto e mais ou menos uma dúzia de refugiados feridos", disse ele, que usava o plástico para proteger sua família da chuva.

Cerca de 3,7 milhões de somalis estão ameaçados pela fome, a maioria no sul do país, o que leva centenas de milhares a empreenderem a perigosa jornada até Mogadíscio e arredores, na esperança de receberem ajuda alimentar.

Só nos últimos dois meses, cerca de 100 mil refugiados chegaram à cidade, e centenas estão a caminho todos os dias, apesar da ameaça representada pelos ataques da milícia islâmica Al Shabaab, que controla a maior parte das zonas atingidas pela seca.

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Sacdia Kassim, somali que trabalha numa ONG local em parceira com o PMA, disse à Reuters que os saques estão se tornando comuns em Mogadíscio. "Com frequência testemunhamos forças do governo e residentes saqueando a comida dos refugiados. Sabíamos que esses caminhões com comida seriam saqueados um dia. Eles dão água na boca da milícia do governo", disse ela.

O PMA, uma das várias agências que buscam mitigar a onda de fome causada pela pior seca na Somália em várias décadas, confirmou o incidente no acampamento de Badbaado.

Davir Orr, porta-voz da agência da ONU, disse à Reuters que a distribuição dos alimentos começou por volta de 6h (0h em Brasília), e transcorreu sem problemas durante cerca de duas horas. "Segundo todos os relatos, a coisa escapou ao controle. Ficou um pouco caótico e o saque dos alimentos começou. Parece que tudo o que restava se perdeu."

De acordo com ele, havia 290 toneladas de milho e óleo para serem distribuídos.

O PMA diz que as agências humanitárias só têm condições de atender até 2 milhões de somalis nas áreas mais atingidas pela seca, porque a milícia Al Shabaab coíbe o acesso da maioria das agências. Por avião, o PMA conseguiu levar alimentação terapêutica a crianças desnutridas em Mogadíscio e Gedo.

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