Refugiados de países em guerra como o Iraque, Afeganistão, Líbia e outros vivem amontoados vários andares debaixo da terra, em abrigos antinucleares da Suíça, sob a alegação de que não há mais lugar para tantos requerentes de asilo.
Sem luz natural, todo de concreto e com paredes que poucas prisões se orgulhariam em ter, os bunkers são hoje a residência para centenas de imigrantes que chegam a regiões como Neuchatel em busca de vida melhor. No subterrâneo dessa Europa do século 21 plena de direitos e valores humanistas, os imigrantes também são tratados como iguais. Nenhum deles tem uma janela ou podem respirar ar puro.
Os abrigos foram construídos a partir dos anos 50 e 60 em toda a Suíça, sob o argumento de que um eventual conflito nuclear em plena Guerra Fria entre soviéticos e americanos atingiria a Europa. Por anos, suíços foram obrigados a manter nesses abrigos - construídos em casas, escolas e edifícios públicos do país - um determinado volume de água e alimentos não perecíveis. Uma vez por ano, fiscais apareciam de surpresa para controlar o que havia em cada abrigo. Quem estivesse descumprindo a lei era severamente multado.
Hoje, os abrigos se tornaram símbolos de um continente que cede às tentações populistas e xenófobas, recriando fronteiras que haviam desaparecido e montando operações de guerra para frear o que chama de "invasão" de estrangeiros.
Na região de Neuchatel, na parte francófona da Suíça, a reportagem visitou um dos bunkers que, desde o ano passado, transformou-se em residência para centenas de refugiados. Oficialmente, a reportagem não foi autorizada a entrar no local. O Departamento de Interior argumentou que seria uma "invasão de privacidade" dos refugiados. Durante o dia, eles têm direito de sair. Mas se quiserem manter seu local nos beliches improvisados precisam voltar antes das 20 horas. Ismail, do oeste da Tunísia conta que, apesar da liberdade de sair, muitos temem deixar o local. Não sabem exatamente seu status e o que lhes ocorreria se forem pegos pela polícia.