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Vice-presidente de um dos mais conhecidos grupos de oposição a Muamar Kadafi, a Frente Nacional de Salvação da Líbia (FNSL), Mohammed Ali Abdullah passou sete de seus 36 anos no exílio e há apenas três meses retornou a Misrata, sua cidade natal. Símbolo de uma mudança de estratégia FNSL (que depois de ter organizado uma tentativa de assassinato de Kadafi, nos anos 80, renunciou à luta armada), Abdullah afirma, em entrevista à Agência O Globo, via Skype, que divergências de opiniões na Líbia pós-Kadafi precisam ser discutidas, não temidas. E que um julgamento de Kadafi deve ser um assunto para os líbios.

O quão difícil será a transição democrática na Líbia?

Será um processo longo e em que certamente a Líbia precisará de ajuda da comunidade internacional. Há o grande desafio de reconstruirmos o país e a sociedade civil. Durante 42 anos vivemos sob um regime em que qualquer maluquice que viesse à cabeça do líder se transformava em lei. Fomos privados das necessidades básicas até em termos de cidadania e, claro, os líbios hoje são inexperientes em termos de governança.

Isso não representa um risco grande de vácuo de poder após a saída de Kadafi?

Imaginar que não haverá divergências de opinião num país com uma sociedade tão complexa quanto a Líbia, que há tribalismo e religião combinados com política, é um erro. Não creio, porém, que se deva temer a diferença. O esmagamento de opiniões contrárias era o que Kadafi fazia. Precisamos construir uma plataforma para lidar com algo natural que é o fato de nem todo mundo concordar com o que todo mundo diz.

Mas a falta de maior articulação política não é um problema?

A Líbia não é o Iraque. Temos uma cultura e uma sociedade com menos divisões e há uma geração jovem de líbios ávida por aprender e participar. Isso é mais importante que o dinheiro do petróleo de que a mídia tanto fala.

O que fazer com Kadafi?

Os rebeldes só podem parar quando Kadafi for preso ou morto. Acho muito difícil que ele se entregue, mas se Kadafi for capturado, deve ser julgado na Líbia. Mandá-lo para Haia só lhe daria mais chances de fazer estardalhaço. Ninguém quer que um julgamento vire uma novela. No fundo, todo mundo está cruzando os dedos para que ele seja morto em combate e a Líbia possa enfim cuidar de seu futuro.

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