A trégua na Síria, considerada como a da “última oportunidade” para colocar fim a uma guerra que já deixou mais de 300 mil mortos, era respeitada nesta terça-feira (13), no segundo dia em que está em vigor, oferecendo aos habitantes de várias cidades sua primeira noite de tranquilidade em meses.
O cessar-fogo em escala nacional passou a valer na segunda-feira às 19h locais (13h de Brasília), depois de um acordo entre Rússia e Estados Unidos, que apoiam, respectivamente, o regime e os rebeldes, em uma nova tentativa de colocar fim a mais de cinco anos de uma guerra devastadora. Ainda assim, foram registrados alguns ataques e disparos nas primeiras horas em áreas que incluem a periferia norte de Hama, Ghouta Oriental e o norte de Aleppo, de acordo com o grupo que monitora o conflito.
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Leia a matéria completaMas aparentemente a violência estava diminuindo e, segundo o Observatório Sírio para os Direitos Humanos (OSDH), não foi reportada qualquer morte de civis em decorrência dos combates nas primeiras 15 horas de duração da trégua, que deixa de fora grupos jihadistas como o Estado Islâmico ou o Jabhat Fateh al-Sham, formação anteriormente conhecida como Frente al-Nusra e que era o braço da al-Qaeda na Síria até mudar de nome em julho.
A brutalidade da última batalha em Aleppo, a segunda cidade do país, que deixou centenas de mortos, incitou russos e americanos a buscar um acordo. O fim dos combates permitirá o envio de ajuda humanitária urgente a centenas de milhares de pessoas que vivem nas zonas sitiadas, em especial na cidade rebelde de Aleppo.
Tanto no leste quanto no oeste da cidade, os habitantes permaneceram nas ruas na segunda-feira até a meia-noite, aproveitando o cessar-fogo para celebrar o Eid al-Adha, a festa muçulmana do sacrifício.
De acordo com as agências russas Interfax e RIA Novosti, militares russos instalaram um ponto de observação na rota do Castello, um eixo vital de acesso aos bairros rebeldes de Aleppo.
“Esta rota será a principal para a entrega de ajuda humanitária a Aleppo”, declarou um responsável do centro militar russo de observação do cessar-fogo, o coronel Serguei Kapitsyn, citado pela Interfax.
Grupos similares de militares russos também devem ser mobilizados em Al Mashraqa (norte da província de Aleppo) e em Hama (centro), havia indicado na noite de segunda-feira o exército russo.
Para o secretário de Estado americano, John Kerry, que negociou o acordo com seu colega russo, Serguei Lavrov, a trégua poderá “ser a última oportunidade de salvar” a Síria, onde o conflito já deixou mais de 300 mil mortos desde março de 2011 e obrigou milhares de pessoas a fugir.
Conseguimos dormir
Em muitas cidades e localidades, em particular as controladas pelos rebeldes e que eram bombardeadas diariamente pela aviação do regime, a população demonstrou alívio.
“Geralmente não fechamos os olhos durante a noite pelo som dos aviões”, disse Hassan Abu Nuh, um militante de Talbise, um reduto rebelde na província de Homs (centro). “Mas graças a Deus na última noite pudemos dormir”.
Na província de Idleb, onde 13 civis morreram na segunda-feira antes da entrada em vigor da trégua, um militante também disse que a noite foi tranquila.
“Desta vez conseguimos dormir bem”, afirmou Nayef Mustapha, da localidade de Salqin. No entanto, um pouco cético, Mustafá afirmou que “as pessoas pensam que permanecerão tranquilas apenas durante o Eid”.
Aproveitando esta trégua, a ONU informou que está disposta a “fornecer de maneira urgente ajuda humanitária aos que precisarem”.
Ainda que a oposição e os rebeldes, debilitados, não tenham dado seu acordo formal à trégua e tenham pedido “garantias” do aliado americano, parecem respeitar em terra o cessar-fogo.
Isso não impede que o ceticismo prevaleça sobre o êxito desta nova trégua, já que os grupos extremistas, que controlam amplos setores do país, estão fora do acordo.
Mas, se for respeitada, esta suspensão das hostilidades pode levar a uma inédita colaboração entre Moscou e Washington contra os dois grupos extremistas. Ambos buscam através do acordo favorecer a retomada das negociações entre o regime e os rebeldes para colocar fim a ao conflito, que permitiu que o grupo Estado Islâmico se reforce em meio ao caos.
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