Trípoli sofre com falta d'água e de energia neste sábado (27) enquanto os rebeldes agora no controle da maior parte da capital da Líbia lutam por cidades ainda nas mãos das forças de Muammar Kadafi.
Surtos esporádicos de disparos ecoam nos arredores de Trípoli, mas os combates de rua de dias recentes, a maioria na vizinhança tradicionalmente pró-Gaddafi de Abu Salim, parecem ter minguado.
O lixo se acumula em pilhas fedorentas nas ruas. Em alguns distritos, as pessoas o incendeiam para espantar as doenças.
O suprimento de energia é irregular e a água corrente é escassa. Dezenas de corpos em decomposição ainda estão no interior e nas cercanias do principal hospital de Abu Salim, abandonado pelo corpo médico durante os combates. Os rebeldes em um posto de verificação próximo disseram que os cinco médicos que trabalhavam ali fugiram três dias atrás. Não ficou claro como ocorreram as mortes das vítimas.
Cinco corpos inchados estavam em carretas na entrada do setor de emergência. Eles pareciam ser combatentes pró-Kadafi, possivelmente alguns dos milhares de africanos subsaarianos contratados para lutar por Kadafi.
A Anistia Internacional disse na sexta-feira ter provas de que forças pró-Kadafi mataram vários prisioneiros em dois campos de Trípoli desde que a batalha pela capital irrompeu uma semana atrás.
O Conselho Nacional de Transição (NTC na sigla em inglês) está tentando afirmar sua autoridade e restaurar a ordem na capital, mas suas principais autoridades ainda não se mudaram de sua sede em Benghazi, no leste do país.
Forças pró-KAdafi em Sirte, cidade-natal do líder deposto 450 quilômetros a leste da capital, desafiam os rebeldes que esperavam que Sirte se rendesse rapidamente após a queda de Trípoli.
"Há uma intensa negociação e consulta com os líderes da comunidade em Sirte", declarou Mahmoud Shammam, porta-voz do NTC em Trípoli. "Podemos tomá-la militarmente, mas queremos fazê-lo pacificamente."
O paradeiro do próprio Kadafi continua desconhecido - os insurgentes que o caçam dizem que a guerra não terminará até que o coronel de 69 anos que manteve a Líbia sob seu comando durante 42 anos seja capturado ou morto.
Um comboio de seis Mercedes-Benz cruzou da Líbia para a Argélia na sexta-feira (26), informou a agência de notícias estatal egípcia MENA, citando uma fonte rebelde. Não foi possível verificar a informação, mas a fonte da agência especulou que altos oficiais líbios e o próprio Gaddafi e seus filhos podem ter fugido da Líbia.
O NTC e as potências ocidentais que apoiam as forças insurgentes durante a campanha de cinco meses estão perfeitamente cientes da necessidade de evitar que a Líbia degenere para o tipo de caos que assolou o Iraque durante anos após a invasão liderada pelos Estados Unidos em 2003.
A vida está longe da normalidade em Trípoli, cujos dois milhões de habitantes se debatem com um colapso dos serviços básicos, ainda que muitos comemorem a derrubada de um líder odiado.
"Há uma escassez generalizada de combustível, alimento e suprimentos médicos, especialmente nas Montanhas Nafusa e em Trípoli", disse o secretário-geral das Nações Unidas, Ban Ki-moon, em Nova York, citando relatos de que o fornecimento de água à capital e arredores pode estar ameaçado, colocando em risco 3 milhões de pessoas ou mais.
A falta de recursos em Trípoli se agravou, embora o presidente do NTC, Mustafa Abdel Jalil, tenha dito na quinta-feira que suas forças descobriram grandes estoques de comida e remédios na capital que devem por fim à escassez.