Presidente eleito tomará posse no dia 20 de janeiro| Foto: Bryan R. Smith/AFP

O presidente eleito dos Estados Unidos, Donald Trump, admitiu que poderia levantar as sanções contra a Rússia e disse que não está comprometido com um antigo acordo entre EUA e China em relação a Taiwan. As declarações são sinais de que ele deve usar todo poder de barganha disponível para realinhar as relações dos EUA com seus principais rivais estratégicos.

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Em entrevista ao The Wall Street Journal, Trump disse que, “pelo menos por algum tempo”, deve manter intactas as sanções contra a Rússia impostas pela administração Obama em dezembro, em resposta aos supostos ciberataques de Moscou para influenciar a eleição presidencial americana. No entanto, Trump sugeriu que pode remover essas penalidades caso a Rússia se mostre útil na guerra contra o terrorismo e ajude os Estados Unidos a alcançar outros importantes objetivos.

“Se tivermos boas relações e a Rússia estiver mesmo nos ajudando, por que haveria sanções?”, disse. O presidente eleito afirmou também que está preparado para encontrar o presidente russo, Vladimir Putin, após tomar posse. “Entendo que eles gostariam de se reunir conosco, e por mim está tudo bem.”

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O desejo de mudar as relações com Moscou em particular tem sido um objetivo de presidentes dos Estados Unidos desde que as tensões começaram a aumentar, sob a presidência de Vladimir Putin em 2012. A ex-secretária de estado Hillary Clinton fez tentativas nesse sentido no começo da administração Obama, assim como o ex-presidente George W. Bush.

Resistência

No entanto, os esforços diplomáticos de Trump vão encontrar resistência no congresso, inclusive entre republicanos. Os legisladores querem que a administração adote uma postura mais dura em relação à Rússia após os serviços de inteligência terem concluído que Putin tentou influenciar o resultado das eleições presidenciais com uma campanha de ciberataques.

Trump disse também que não vai se comprometer com a política conhecida como “Uma China”, que não reconhece a soberania de Taiwan, enquanto não vir progressos nas práticas cambiais e comerciais de Pequim. “Tudo está em negociação, inclusive a política de Uma China”, afirmou.

A China considera Taiwan uma província rebelde desde que os nacionalistas liderados por Chiang Kai-shek estabeleceram um governo na ilha, em 1949, após anos de guerra civil. Washington rompeu relações diplomáticas com Taiwan e reconheceu a política de “Uma China” em 1979, o que era uma das precondições para que EUA e China restabelecessem relações diplomáticas.

Trump parece não ter paciência para protocolos diplomáticos envolvendo China e Taiwan. Após sua vitória nas eleições, Trump atendeu uma ligação do líder de Taiwan, provocando manifestações de reprovação à Pequim. Especialistas em relações internacionais dos EUA questionaram se Trump teria noção das implicações de uma conversa desse tipo.

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“Vendemos para eles US$ 2 bilhões em equipamento militar no ano passado. Podemos vender US$ 2 bilhões dos melhores e mais modernos equipamentos militares, mas não podemos aceitar uma ligação. Em primeiro lugar, seria indelicado não aceitar a ligação”, disse.

No passado, Trump disse que classificaria a China como manipulador cambial após tomar posse. Na entrevista, ele disse que não adotaria tal medida em seu primeiro dia na Casa Branca. “Vou conversar com eles antes”, falou, acrescentando que “certamente, eles são manipuladores”.

O presidente eleito deixou claro seu descontentamento com as práticas cambiais chinesas. “Em vez de dizer ‘estamos desvalorizando nossa moeda’, eles dizem ‘nossa moeda está caindo’. Não está caindo. Eles estão fazendo isso de propósito. Nossas empresas não podem competir com eles porque nossa moeda está fortalecida e isso está nos matando.”

Trump ataca ícone de direitos civis

Donald Trump atacou no Twitter um aclamado legislador e ícone de defesa dos direitos civis que disse que não comparecerá à cerimônia de posse do presidente americano por considerar ilegítima a eleição do republicano.

“O congressista John Lewis deveria dedicar mais tempo a arrumar e ajudar seu distrito, que está em uma situação horrível e caindo aos pedaços (sem falar que está infestado pelo crime), em vez de reclamar falsamente sobre os resultados da eleição”, publicou Trump no Twitter.

“Todos falam, falam, falam - sem ações nem resultados. Triste!”, acrescentou.

Lewis, que representa um distrito no estado da Geórgia (localizado na região sul dos Estados Unidos) que inclui Atlanta e seus subúrbios, se tornou na sexta-feira (13) o legislador democrata mais popular a boicotar a posse de Trump.

Pelo menos oito representantes democratas declararam publicamente que não comparecerão à cerimônia de posse de Trump no Capitólio, na próxima sexta (20).

“Não vejo este presidente eleito como um presidente legítimo”, disse Lewis no programa “Meet the Press”, da NBC, em uma entrevista que irá ao ar no domingo (15).

“Acredito que os russos participaram ajudando este homem a ser eleito. E ajudaram a destruir a candidatura de Hillary Clinton”, disse, acrescentando que esta será a primeira vez que ele vai perder a cerimônia de posse presidencial desde que se tornou membro do Congresso, em 1987.

Manipulação

Agências de inteligência americanas acusaram a Rússia de fazer ciberataques ao Comitê Nacional Democrata e de divulgar emails hackeados de assessores seniores de Hillary para tentar influenciar as eleições dos Estados Unidos.

Lewis, de 76 anos, é conhecido pelas décadas de trabalho em prol de movimentos de defensa dos direitos civis. Ele marchou com Martin Luther King, em 1963, em Washington, quando o líder fez o famoso discurso de “Eu tenho um sonho”, e em 1965 participou da marcha em Selma, no Alabama, que ficou conhecida como “Domingo Sangrento”.

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