O presidente dos Estados Unidos, Donald Trump, assinou nesta quarta-feira (25) um decreto sobre o reforço do controle migratório que contém a ordem executiva para iniciar a construção de um muro na fronteira com o México. Ele defendeu a decisão, afirmando que “uma nação sem fronteiras não é uma nação”.
“O secretário de Segurança Interna, trabalhando em conjunto comigo e com a minha equipe, começará imediatamente a construção de um muro na fronteira. Precisamos muito”, disse o presidente. A construção do muro constitui uma das propostas mais polêmicas da campanha eleitoral de Trump, que insiste que de alguma forma o México terá que pagar pela obra.
O decreto assinado por Trump se refere, em geral, ao reforço do controle na fronteira e, segundo o porta-voz da Casa Branca, Sean Spicer, inclui medidas para a criação de mais instalações de detenção de imigrantes na zona fronteiriça. Também veta a libertação de imigrantes ilegais presos e mantém a prioridade de deportação para os que tiverem antecedentes criminais.
Spicer disse que a construção do muro “não é apenas uma promessa de campanha, mas um primeiro passo de sentido comum para assegurar nossa fronteira porosa”.
Sem fundos para as “cidades santuários”
O presidente também assinou nesta quarta um segundo decreto que propõe o reforço da vigilância migratória no interior do país. De acordo com Spicer, o governo “eliminará recursos federais para as chamadas ‘cidades santuários’ e cidades que dão abrigo a imigrantes ilegais”. Trata-se de cidades onde as autoridades se negam a prender e entregar para deportação imigrantes em situação irregular. Esses “santuários” chegam a 300 e estão espalhados por praticamente todo o país.
No início da manhã, durante declarações à emissora ABC, Trump havia dito que a construção do muro começará “logo que pudermos fazê-lo”, possivelmente nos próximos meses, ainda que tenha acrescentando que “seguramente o planejamento começará de imediato”.
Partes da fronteira já têm uma cerca e, inclusive, existem trechos com uma enorme barreira, mas Trump pretende cumprir sua promessa de campanha de fazer um “belo muro” em toda a extensão dos 3.200 quilômetros com o objetivo de frear a entrada de imigrantes ilegais.
Trump também disse à ABC que os Estados Unidos “receberão de volta o dinheiro (da construção do muro) em uma data posterior mediante qualquer transação que façamos com o México”.
A assinatura desse decreto coincide com a presença do ministro mexicano das Relações Exteriores, Luis Videgaray, em Washington, para preparar uma visita do presidente Enrique Peña Nieto, prevista para o fim de janeiro.
O ministro mexicano de Economia, Ildefonso Guajardo, também se encontra em Washington, e, ao embarcar rumo aos Estados Unidos, disse à imprensa que “há claríssimas linhas vermelhas que devem ser pintadas desde o início”.
Oposição mexicana pede cancelamento de reunião
Políticos de oposição no México pediram nesta quarta-feira ao presidente Enrique Peña Nieto que cancele sua visita a Washington - na próxima terça-feira (31) - diante da “ofensa” de seu homólogo Donald Trump de autorizar a construção de um muro ao longo da fronteira.
“É um ato que se manifesta com certa raiva”, considerou o senador Armando Ríos Piter, do Partido da Revolução Democrática, em comunicado.
Apesar da “boa disposição” por parte do governo mexicano de “ter um diálogo para uma negociação integral com os Estados Unidos, me parece que neste momento não há condições pertinentes”, acrescentou, ao pedir que Peña Nieto “cancele a reunião que tinha prevista”. Consultado pela AFP, o porta-voz de Peña Nieto não fez comentários.
O anúncio de Trump “é algo insultante” para Videgaray, Guajardo, para o presidente do México “e para todos os mexicanos”, considerou Jorge Castañeda, chanceler do México durante o mandato do ex-presidente Vicente Fox (2000-2006).
Muro
O projeto é gigantesco (alguns estudos apontam que um muro dessas proporções precisaria de três vezes mais aço do que o necessário na construção da represa Hoover) e cobriria uma área de 3,1 mil quilômetros. Levando em consideração a geografia da fronteira, isso incluiria atravessar todos os tipos de terrenos, de rios à vales, de desertos à áreas repletas de verde.
Contudo, não é um projeto completamente inédito. Os Estados Unidos já têm barreiras e cercas construídas ao longo das últimas três gestões presidenciais. Bill Clinton, George W. Bush e até mesmo Barack Obama expandiram esse projeto, que conta atualmente com cerca de mil quilômetros não sequenciais. Ainda assim, a barreira construída pelos presidentes anteriores não é verdadeiramente impenetrável e nenhum deles se propôs a fazer dela um dos pontos centrais de sua administração. Trump, não. O republicano vê o muro como um dos maiores legados possíveis para sua administração, e já está articulando ativamente o congresso para que ela saia do papel.
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