Além dos quase dois mil mortos já oficialmente contabilizados e mais de 800 mil desabrigados, o supertufão Haiyan fez outra vítima em sua passagem pelas Filipinas: o crescimento promissor de um país tido como estrela econômica emergente na Ásia. No rastro de destruição do desastre, a economia filipina também foi afetada. Estima-se que o Haiyan tenha causado prejuízos no valor de US$ 14 bilhões - mais de 5% do PIB do país - e espera-se um longo caminho de recuperação, enquanto a população ainda vaga pelas ruas em busca de água e alimentos.

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Em Tacloban, a cidade mais atingida, centenas de moradores invadiram a pista de um aeroporto em ruínas quando dois aviões de carga chegaram nesta terça-feira, na esperança de serem levados à capital Manila. Policiais e militares tiveram de conter a multidão. O alcance da destruição realçou um ponto fraco do país: sua infraestrutura frágil e desigual, depois de décadas de negligência e corrupção. A gravidade da devastação - em Tacloban, 80% das construções se reduziram a escombros - é um alerta sobre a necessidade de investimentos em mais estradas, portos e linhas de transmissão de energia, não só para melhorar os padrões de vida da população, mas também para suportar melhor desastres naturais que atingem o país com uma regularidade impressionante, e que o fazem perder US$ 1,6 bilhão por ano.

"Mesmo os casos dos feridos mais leves podem piorar caso eles desenvolvam infecções. É uma preocupação que aumenta à medida que os dias passam e pessoas continuam sem atenção médica", diz a coordenadora de emergência da organização Médicos sem Fronteiras nas Filipinas, Natasha Reyes.

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Em comparação com os vizinhos Indonésia, Malásia, Vietnã, Tailândia e Cingapura, as Filipinas têm o menor percentual de estradas pavimentadas, segundo dados de multinacionais estrangeiras no país.

"É difícil se preparar para a pior tempestade no mundo", disse à AP o economista do HSBC Trinh Nguyen. "Mas, ao mesmo tempo, uma das questões agora é que não há maneira de acessar esses lugares que foram severamente atingidos. As estradas não estão lá."

A ONU fez um apelo de arrecadação de US$ 301 milhões para ajudar as cerca de 10 milhões de pessoas afetadas pelo supertufão. A Cruz Vermelha, por sua vez, pediu US$ 94 milhões para levar alimentos, água potável e abrigo a 100 mil famílias. Enquanto isso, os EUA e o Reino Unido anunciaram o envio de navios de guerra para cooperar na assistência humanitária, entre eles o navio britânico HMS Daring, dotado de equipamentos capazes de transformar água do mar em água potável.

Grande parte dos esforços deve ser dirigida à cidade portuária de Tacloban. Ali, metade das plantações de cana-de-açúcar e um terço dos cultivos de arroz foram devastados. A região responde por 2% da economia nacional. Se a passagem do Haiyan tivesse se concentrado na capital, a catástrofe seria ainda pior, do ponto de vista econômico. Manila, onde vivem 12% da população, é responsável por um terço da produção econômica nacional, de US$ 250 bilhões anuais.

O crescimento era uma das apostas do presidente Benigno Aquino ao assumir o poder, em 2010. Na ocasião, ele comprometeu-se a erradicar a corrupção e reduzir a pobreza. Estabeleceu uma meta de dobrar os investimentos em infraestrutura a 5% do orçamento federal até 2016. Mesmo com os desastres naturais, o país mantinha uma taxa anual de crescimento econômico superior a 7%, maior do que a da Índia. O ritmo aumentava as esperanças de que milhões de pessoas sairiam da pobreza - até as ondas de seis metros provocadas pelo Haiyan jogarem o país num mar de incertezas.

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