O corpo do homem estava com a face voltada para baixo, com sua camiseta branca brilhando ao sol. Ele foi achado nas ruínas de um restaurante no centro de Porto Príncipe, um ano após o terremoto que devastou o Haiti. É mais um sinal de quão distante o país está de se recuperar de um desastre que deixou sua capital em ruínas e matou mais de 230 mil pessoas, segundo estimativas. Para marcar o aniversário do terremoto, amanhã haverá uma missa em frente à catedral destruída, ainda em ruínas.
Quando a poeira ainda se assentava após o terremoto do dia 12 de janeiro de 2010, funcionários, voluntários e centenas de grupos corriam para ajudar com água, comida e primeiros socorros, salvando muitas vidas. Mas o esforço para reconstrução foi prejudicado pelo tamanho da tragédia, pela extensão do auxílio necessário e, talvez mais gravemente, pela falta de liderança e coordenação de mais de 10 mil organizações não governamentais.
A comunidade internacional "não fez o suficiente para apoiar a boa governança e a efetiva liderança no Haiti", afirmou a ONG Oxfam em recente relatório. Segundo a respeitada entidade, as agências de ajuda continuam a superar as autoridades locais e nacionais na entrega de auxílio, enquanto os doadores não estão coordenando suas ações ou consultando adequadamente o povo haitiano.
Menos de 5% dos escombros já foram limpos, deixando material suficiente para encher caminhões enfileirados por metade do globo terrestre. No prédio destruído onde o homem foi encontrado trabalhadores contratados para limpar a área com as mãos acharam outros dois cadáveres.
Enquanto isso, cerca de 1 milhão de pessoas seguem sem moradia e campos de refugiados do tamanho de bairros parecem favelas permanentes, nos campos e praças da capital. Uma epidemia de cólera já matou mais de 3.600 pessoas na zona do terremoto, e uma crise eleitoral ameaça romper a frágil estabilidade democrática.
A economia do Haiti já era a pior do hemisfério, mas sofreu uma contração de 7% em 2010, segundo o Banco Mundial. Sem locais para se construir, as obras de novas moradias ainda engatinham. Além disso, apenas 15% dos abrigos temporários necessários foram construídos, com poucas instalações permanentes de água e saneamento básico.
A reabertura das escolas também ocorre em ritmo lento. Os esforços de reconstrução são atrapalhados pelo fracasso em entregar ou gastar bilhões de dólares já prometidos. Norte-americanos, por exemplo, doaram mais de US$ 1,4 bilhão para ajudar os sobreviventes e a reconstrução, mas apenas 38% desse total foi gasto para a recuperação.
No caso dos governos, o quadro não é melhor. Na conferência de doadores, em 31 de março, mais de US$ 5,3 bilhões foram prometidos para o país, para um período de 18 meses. Apenas US$ 824 milhões foram entregues, segundo o escritório do enviado especial da ONU para o Haiti, o ex-presidente dos EUA Bill Clinton. Washington prometeu originalmente US$ 1,15 bilhão para 2010, mas transferiu esse valor quase integralmente para 2011, após atrasos no Congresso e na própria administração do presidente Barack Obama.
O governo do presidente haitiano René Préval já era fraco e nunca se recuperou. Ministros foram realocados, mas não conseguiram avançar, em meio a muitos funcionários públicos mortos pelo terremoto e aos problemas com o material perdido entre os escombros. Muitos haitianos veem Préval no mínimo como ineficiente, e vários observadores acusam o mandatário de não ter liderança. As informações são da Associated Press.
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