Militares patrulham a região do Arco do Triunfo: democracia fortemente vigiada será consequência dos atentados da sextafeira 13.| Foto: Charles Platiau/ReutersS

Um novo mundo está emergindo após a sexta-feira 13 em Paris. E ele provavelmente terá, ao menos no curto e médio prazos, mais tentativas de ataques terroristas, menos liberdades individuais nas democracias e o acirramento da xenofobia contra muçulmanos. Além disso, a crise dos imigrantes da Síria e do Iraque tende a se agravar com o possível fechamento de fronteiras na Europa e em outras nações que vinham acolhendo refugiados.

CARREGANDO :)

129
vítimas fatais

Esse é o resultado dos atentados terroristas da sexta-feira em Paris. As autoridades francesas contabilizam ainda outras 350 pessoas feridas pelos radicais do Estado Islâmico, das quais 99 estão em estado grave.

Publicidade

Ao mesmo tempo, abriu-se uma possibilidade de haver consenso internacional para dar fim ao Estado Islâmico– o que implicará, em um primeiro momento, a intensificação da guerra na Síria. Poucos dias após os atentados que deixaram 129 mortos, essas tendências já começam a ficar claras num planeta ainda em choque pela barbárie terrorista.

Mais ameaça de terrorismo

Os atentados em Paris provocaram uma intensificação da ação militar das nações do Ocidente contra as bases do Estado Islâmico (EI) na Síria e no Iraque. E, como consequência, o risco de novos atentados principalmente na Europa e nos EUA aumentou. Acuado no Oriente Médio, o EI tende a ver a ampliação das tentativas de atentado como estratégia de sobrevivência.

Autoridades francesas detêm 23 pessoas para interrogatório

Investigações continuam fortes também na Bélgica, onde moravam três dos oito terroristas responsáveis pelos ataques em Paris, incluindo o provável mentor de tudo

Leia a matéria completa

As potências ocidentais sabem disso. O primeiro-ministro francês, Manuel Valls, admitiu que há um grande risco de novos ataques na França e em outros países europeus para breve. “Sabemos que existem ações terroristas em preparação contra a França e outros países europeus”, disse.

Na segunda-feira (16), o EI divulgou um vídeo em que ameaça fazer ataques contra países que bombardeiam o Oriente Médio – aos quais classificou como “cruzados”, numa referência às cruzadas da Idade Média. No vídeo, o Estado Islâmico ameaça atacar Washington, nos EUA.

Publicidade

Xenofobia e fronteira fechada

O controle rigoroso de fronteiras e o aumento de restrições para a imigração será uma provável consequência dos atentados terroristas de Paris.

Na segunda-feira (16), o presidente francês, François Hollande, defendeu medidas mais eficazes de controle das fronteiras da União Europeia. A medida, caso saia do papel, tende a agravar a crise migratória de refugiados, que veem na Europa a principal oportunidade de fugir da guerra no Oriente Médio. A Polônia já avisou que não vai aceitar receber refugiados sem garantias de segurança.

Artigo: A Europa e o “fechamento das fronteiras” pós-terror

Leia a matéria completa

A defesa do controle da entrada de imigrantes cresce na mesma proporção que a xenofobia contra muçulmanos porque um dos terroristas suicidas de Paris pode ter entrado na Europa em outubro, pela Grécia, junto com uma onda de refugiados da Síria.

A preocupação europeia inclusive atravessou o Atlântico e os estados americanos do Texas, Arkansas, Indiana, Alabama, Michigan, Lousiania e Mississipi anunciaram que não aceitarão mais refugiados. Os EUA haviam se comprometido a receber 10 mil sírios.

Publicidade

Já o presidente da Turquia, Tayyip Erdogan, alertou que o Ocidente não deve confundir a crise migratória com a ameaça do terrorismo. A Turquia se preocupa com a possibilidade de a Europa não aceitar mais os refugiados porque o país tende a virar a principal opção dos sírios.

Menos liberdade

Símbolo da moderna República e da liberdade individual, a França deu indicativos na segunda-feira (16) de que o combate ao terror exigirá restrições a direitos individuais. O presidente François Hollande conduziu uma sessão conjunta do Parlamento (entre deputados e senadores) em que anunciou a proposta de ampliar de 12 dias para três meses o prazo legal em que pode vigorar o estado de emergência. No estado de emergência, as autoridades ganham mais poderes para proibir a circulação de pessoas ou veículos, para instaurar “zonas de proteção ou de segurança” onde a estada das pessoas será regulada e para proibir a permanência, em qualquer lugar, de cidadãos que venham a “dificultar” a ação do Estado.

Declarando que a França está em guerra, Hollande também propôs uma série de mudanças na Constituição do país para combater as ameaças extremistas. Ele disse que o artigo 36, que trata do estado de sítio, e o artigo 16, que prevê medidas em caso de perigo extremo (insurreição armada ou ataque estrangeiro, por exemplo) não se aplicam mais à situação atual da França. Hollande não detalhou quais modificações quer fazer nesse sentido. A oposição, no entanto, já se manifestou contrária a tais mudanças.

Hollande também falou em punir pessoas condenadas por terrorismo e que tem outra nacionalidade com a perda da nacionalidade francesa. Ele quer, assim, facilitar a expulsão dessas pessoas do país. Apesar das restrições a direitos individuais, o discurso de Hollande foi de que as medidas são necessárias para proteger a democracia. “Nenhum bárbaro vai nos impedir de viver como decidimos viver. O terrorismo não vai destruir a República, porque a República vai destruir o terrorismo. (...) Nossa democracia já triunfou antes sobre adversário muito mais formidáveis do que esses covardes.”

Publicidade

O anúncio de François Hollande no Parlamento da França foi carregada de um forte simbolismo, pois foi a terceira vez que um presidente francês conduziu uma sessão conjunta do Legislativo. A última havia ocorrido em 1848.

União contra o terror

A ameaça comum do Estado Islâmico pode provocar a união de potências adversárias para desmantelar as forças jihadistas na Síria – país devastado pelo conflito armado que se tornou a principal base dos radicais islâmicos. EUA e Europa de um lado e a Rússia, do outro, vinham se desentendo sobre a solução para a situação da Síria. Os russos defendiam a permanência do ditador sírio Bashar Al-Assad no comando do país. Os americanos e europeus argumentavam que qualquer alternativa só poderia ser aceita se incluísse a deposição de Assad. Na segunda-feira (16), porém, o presidente russo, Vladimir Putin, deu um primeiro passo na direção de um acerto com as demais potências. Disse que seu país está pronto para apoiar a oposição síria com ataques aéreos nos combates contra o Estado Islâmico.