O Vaticano exigiu nesta quarta-feira que o bispo Richard Williamson, que negou o Holocausto, retratasse sua posição antes de ser completamente readmitido na Igreja Católica Romana.
O Vaticano também afirmou em comunicado que o papa Bento XVI não tinha conhecimento das visões de Williamson sobre o tema quando decidiu retirar a excomunhão dele e de três outros bispos ultraconservadores, em 21 de janeiro.
O texto foi divulgado pelo Secretariado de Estado do Vaticano, um dia depois de a chanceler alemã, Angela Merkel, afirmar que o papa deveria deixar clara sua discordância daqueles que rechaçam a existência do massacre sistemático de judeus.
Foram exibidas imagens de Williamson em uma emissora sueca, dias antes da reabilitação tornar-se pública. Na rede sueca, Williamson sustentou que as evidências históricas "estão bastante contra (o fato de) 6 milhões de judeus terem sido deliberadamente envenenados por gás" durante a Segunda Guerra (1939-45).
O religioso depois se desculpou ao papa por causa controvérsia, mas não repudiou seus próprios comentários. Ele falou que apenas entre 200 mil e 300 mil judeus foram mortos durante a guerra, e nenhum por envenenamento a gás.
Williamson e três outros bispos foram excomungados em 1988, após terem sido consagrados pelo arcebispo ultraconservador Marcel Lefebvre, sem o consentimento papal. Lefebvre fundou a tradicionalista Sociedade de São Pio X, em 1969, oposta às reformas liberalizantes do Segundo Concílio Vaticano, inclusive sua posição em relação aos judeus.
A Santa Sé afirmou que o fato de anunciar a reabilitação dos bispos não significa que compartilhe as visões do religioso. Porém grupos judeus demonstraram indignação com a medida e exigiram que Williamson se retratasse.
Em comunicado divulgado nesta quarta-feira, o Vaticano esclarece que, apesar de a excomunhão ter sido cancelada, o bispo não tem funções canônicas na igreja, pois foi consagrado ilegitimamente por Lefebvre.
"O bispo Williamson, para ser admitido nas funções episcopais da igreja, terá que tomar distância, de modo absolutamente inequívoco e público, de sua posição em relação ao Shoah, da qual o Santo Padre não estava ciente quando sua excomunhão foi retirada", afirma o texto. Shoah significa "destruição", em hebraico, e é usado para se referir ao Holocausto.
Além disso, o Vaticano disse que a sociedade como um todo deve reconhecer os ensinamentos do Segundo Concílio Vaticano e os ensinamentos de todos os papas que vieram antes e depois do evento a fim de ter uma função canônica legítima na igreja.
O Segundo Concílio Vaticano, ocorrido entre 1962 e 1965, estabeleceu algumas mudanças na Igreja Católica. Entre elas as missas passaram a ser celebradas na língua do país - antes eram rezadas em latim - e houve uma nova etapa na relação dos católicos com outras religiões, entre eles os judeus.