Não parece muito difícil apontar que as eleições presidenciais venezuelanas deste 3 de dezembro tendem a favorecer Hugo Chávez. É certo que, parte da oposição venezuelana conseguiu aglutinar-se em torno de Manuel Rosales, ex-governador do estado Zúlia, região esta em que se concentra a maior riqueza petrolífera do país. De outro lado, um humorista apelidado "El Conde del Guacharo" também lançou sua candidatura, retirada há algumas semanas,o que pode ser interpretado como uma tática da oposição para tentar subtrair votos do chavismo entre os setores mais pobres da população, em que o humorista goza de bastante popularidade.
No entanto, existem três significativas razões para acreditar num novo triunfo de Chávez. Em primeiro lugar, carrega um histórico muito bem-sucedido de confrontos eleitorais. Ganhou as eleições presidenciais de 1998; foi relegitimado em 2000, de acordo com disposição transitória da nova Constituição e, no chamado referendo presidencial de 2004, conseguiu talvez a sua mais importante vitória sobre a oposição. Em segundo lugar, Chávez controla de maneira esmagadora a máquina estatal tanto na esfera nacional quanto na estadual e na municipal. Acrescente-se a isso o fato de que nas últimas eleições para a Assembléia Nacional a oposição não apresentou candidatos. Portanto, a Câmara Legislativa nacional é toda chavista. Em outras palavras, mesmo que Rosales venha a triunfar corre o risco da ingovernabilidade, posto que os atuais deputados só terminarão seu mandato em 2010. Finalmente, os programas sociais chamados de "misiones" ainda são muito bem recebidas pela população de menos recursos. E, além disso, os muitos recursos petrolíferos que entram no país reiniciaram um novo ciclo de consumo, que favorece a todos os setores sociais, ciclo este que só pode ser comparado com a onda consumista dos anos 70, quando da primeira grande elevação internacional dos preços do petróleo.
A oposição, por sua vez, tem de lutar tanto com as forças do chavismo quanto com um setor, também oposto a Chávez, que chama a anular o voto. A favor da oposição comandada por Rosales conta o fato de que o ex-governador realizou uma boa gestão em Zúlia, o que pode servir de espelho para o resto do país. A oposição também pôde apostar na possibilidade das pesquisas de última hora indicarem um crescimento eleitoral de Rosales, o que seria explorado pela mídia privada, quase toda contrária à continuidade chavista. Ainda assim, é pouco para vencer Chávez. No entanto, o fato de existir uma oposição, que paute suas conduta pelas regras do jogo eleitoral, já é um importante desdobramento para o sistema político venezuelano, tão fortemente hegemonizado pelo chavismo.