Os distúrbios pós-eleitorais no norte da Nigéria já mataram pelo menos 33 pessoas só nas principais cidades, de acordo com uma contagem feita por testemunhas e socorristas, mas acredita-se o número total seja bem superior.
Centenas de pessoas ficaram feridas e milhares deixaram suas casas por causa da violência que assola o norte da Nigéria, majoritariamente muçulmano, depois da reeleição do presidente sulista Goodluck Jonathan, no fim de semana. O principal adversário dele, o ex-governante militar nortista Muhammadu Buhari, diz que a eleição foi fraudada.
Cadáveres carbonizados eram vistos na terça-feira no bairro de Gonin-Gora, em Kaduna, um deles aparentemente queimado por um pneu em chamas colocado no seu pescoço. Enfermeiros já haviam recolhido doze corpos no bairro; um deles pegou também um pé amputado.
Igrejas, mesquitas, casas e lojas foram incendiadas na segunda-feira por partidários enfurecidos de Buhari. 'Chega de PDP,' dizia uma inscrição feita com giz ao lado de um corpo em Kaduna, numa referência ao partido governista.
Buhari descreveu a violência como 'triste e lamentável,' mas não fez um apelo claro para que seus partidários se acalmem. 'Esse ato covarde não foi iniciado por nenhum dos nossos partidários, e portanto não pode ser apoiado por nosso partido,' disse ele em nota.
Soldados patrulhavam as ruas, impondo um toque de recolher em vários Estados. Mas houve relatos continuados de violência nas cidades menores, onde a presença militar era menos visível, como é o caso de Zonkwa e Kafanchan, ao sul de Kaduna. Os hospitais estavam lotados.
'Temos lesões como espancamentos, ferimentos com facões e cerca de cinco vítimas de tiros,' disse Ibrahim Gwarze, um médico do Hospital-Escola Aminu Kano. 'Tivemos um menino de 7 anos com um ferimento a bala na barriga.'
Observadores estrangeiros consideram que essa foi a eleição mais limpa das últimas décadas no país, o mais populoso da África, que tem um histórico de votações marcadas por fraudes e intimidações.
Mas os resultados revelam uma profunda polarização, já que Buhari, de 68 anos, obteve uma ampla vitória no norte, enquanto Jonathan, de 53, venceu no sul, de maioria cristã.
'Eles queimaram minha casa e saí correndo dos desordeiros, aí eu caí, quebrei a perna e me pegaram,' narrou o frentista Joseph Agula, 25 anos, atendido no hospital em Kano com um ferimento de facão na cabeça.
'Eles perguntaram se eu era cristão ou muçulmano. Eu menti e disse que eu era muçulmano, mas eles não acreditaram e me bateram e me cortaram... Eu escutei eles perguntando às pessoas: 'PDP ou CPC'? Se eles viam um cartaz do PDP, queimavam o edifício.'
Cristãos que se refugiaram em quartéis militares e policiais em Kano criticaram o Congresso para a Mudança Progressista (CPC, de Buhari) e outro partido por não terem acatado o resultado eleitoral.
'Como eles podem alegar fraude. Jonathan ganhou em toda a nação. Deveriam aceitar os resultados, em vez de matar e destruir pessoas e bens,' disse Olaoye Ade, que fugiu com sua esposa e filhos para um quartel da polícia de Kano. 'Estou aqui com minha família no quartel, em vez de celebrar a democracia recém-aquirida da nação.'
Pelo menos 150 pessoas fugiram para o vizinho Níger, onde recebem alimentos e proteção policial.
No sul, alguns membros de etnias nortistas temem represálias, e centenas de membros do grupo étnico hausa se refugiaram em quartéis das cidades de Enugu e Onitsha.
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