Um dos mais influentes grupos de sobreviventes do Holocausto acusou nesta segunda-feira (10) o papa Pio 12 de ter ficado "calado diante do mal absoluto" e pediu que o Vaticano suspenda seu processo de beatificação.
A entidade Encontro Americano dos Sobreviventes do Holocausto Judeu e Seus Descendentes anunciou que fará uma campanha global junto a núncios apostólicos (embaixadores do Vaticano) contra a beatificação de Pio 12.
"O que nós, sobreviventes e seus filhos, buscamos transmitir aos nossos amigos no Vaticano é a nossa angústia moral e nossa profunda dor neste momento", disse nota assinada por Elan Steinberg, vice-presidente do grupo.
"Houve muitos indivíduos e representantes da Igreja cujo brilhante heroísmo durante os terríveis anos do Holocausto deveriam ser reconhecidos, mas o papa Pio 12 simplesmente não estava entre eles", acrescentou Steinberg, que é também diretor-emérito do Congresso Mundial Judaico.
Alguns judeus acusam Pio 12, que pontificou de 1939 a 1958, de ter feito vista grossa ao Holocausto, e o Vaticano alega que ele agiu nos bastidores para salvar muitos judeus.
O Encontro Americano, com cerca de 60.000l membros, vai solicitar audiências com o núncio apostólico em Washington, e outras entidades judaicas devem fazer o mesmo em dezenas de países.
"Durante a Segunda Guerra Mundial, apesar dos apelos e relatos de outros líderes eclesiásticos e aliados, o papa Pio 12 nem uma só vez denunciou de forma pública e explícita os crimes nazistas contra os judeus", disse Steinberg.
Esse assunto dificulta as relações entre judeus e católicos. Alguns grupos judaicos pedem que o Vaticano suspenda o processo de beatificação durante sete anos, até que sejam abertos os arquivos daquele período.
A Congregação da Causa dos Santos já aprovou as chamadas "virtudes heróicas" de Pio 12, o que o qualifica a ser beato da Igreja, mas o papa Bento 16 ainda não assinou um decreto nesse sentido.
Steinberg disse que o Vaticano deveria olhar para o papa João 23 (1958-1963), que ajudou a salvar judeus e informou o Vaticano sobre os planos nazistas de exterminar os judeus quando era bispo na Turquia.
"Para os sobreviventes, João foi um santo", disse Steinberg.