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O ambicioso

Defensor dos valores de "trabalho", "mérito", "respeito" e "autoridade", autoproclamado "candidato do povo" na reta final da campanha, Nicolas Sarkozy realiza o sonho de sua vida: conquistar a Presidência da França.

Defensor de uma "direita republicana" sem complexos, Sarkozy encarna, aos 52 anos, uma nova geração, e participava de sua primeira eleição presidencial, após três décadas na política.

Filho de um aristocrata húngaro refugiado na França no final da Segunda Guerra Mundial e neto, pelo lado materno, de um judeu de Salônica -um perfil que fez o ultradireitista Jean-Marie Le Pen alegar que não tinha direito de concorrer à chefia de Estado-, Sarkozy diz que quer "devolver à França tudo o que (o país) lhe deu".

Advogado e diplomado em Ciências Políticas, este homem sempre com pressa aderiu, em 1974, à gaullista UDR e, em 1976, ao partido que sucedeu aquela legenda, o RPR do atual presidente francês em fim de mandato, Jacques Chirac.

Eleito aos 28 anos prefeito de Neuilly-sur-Seine, região nobre nos arredores de Paris, e deputado aos 33, Sarkozy foi ministro de Orçamento aos 38 no Governo de Edouard Balladur.

Popular da direita

Sarkozy ocupou o cargo de ministro do Interior do governo Chirac, onde sua luta contra a criminalidade e a imigração ilegal o tornaram o político mais popular da direita.

Depois, Sarkozy passou a ser o titular de Finanças, até que, em 2004, assumiu o comando da UMP, criada em 2002 por Chirac e que devia servir para alavancar a candidatura de Alain Juppé ao Palácio do Eliseu.

Sarkozy derrotou as manobras dos seguidores de Chirac da primeira "encarnação" da frente "Todos Exceto Sarkozy", e fez da UMP uma poderosa máquina ao serviço de sua ambição presidencial.

Após o "não" dos franceses à Constituição européia em 2005, Chirac não teve mais remédio a não ser trazer novamente o candidato da UMP ao governo como ministro do Interior.

No final de março, Chirac deu seu frio apoio a Sarkozy para sucedê-lo no Palácio do Eliseu. Sua mulher, Bernadette Chirac, acompanhou o candidato em um comício antes do primeiro turno das eleições presidenciais.

No dia 22 de abril, o conservador ficou em primeiro, com 31,18% dos votos, 5 pontos acima de Royal, a primeira mulher com chances verdadeiras de chegar ao Palácio do Eliseu.

Para o primeiro turno, Sarkozy havia feito um discurso inclinado à direita -propôs um Ministério da Imigração e da Identidade Nacional-, para reconquistar a parte do eleitorado da extrema-direita.

Para a segunda rodada, o candidato da UMP disputou com a socialista o voto popular e, principalmente, os quase sete milhões de eleitores que apoiaram o centrista François Bayrou.

Ameaçado por uma nova frente "Todos Exceto Sarkozy" da esquerda, que reúne sobreviventes e herdeiros da ideologia de Maio de 1968, à qual o presidenciável atribui muitos dos males do país, o conservador venceu ao se apresentar como o "candidato do povo", oferecendo construir o "novo sonho" de uma "França fraternal".

Pai de três filhos e casado pela segunda vez com Cecilia, Sarkozy quer ser amado, mas assusta a maioria dos franceses com seu autoritarismo, de acordo com as pesquisas.

Em seu primeiro discurso como presidente-eleito da França, minutos depois de a média das pesquisas de boca-de-urna confirmarem sua vitória sobre a socialista Ségolène Royal no segundo turno das eleições, Nicolas Sarkozy voltou a usar o tema da união, trabalhado em sua campanha, para negar a divisão do país.

"A minha vitória não é a vitória de uma França sobre a outra. É a vitória da democracia, e eu vou fazer o que puder para ter todos os franceses unidos", disse, muito aplaudido e seguido mais uma vez, pela Marselhesa, o hino francês.

O discurso tenta atrair a simpatia das periferias das grandes cidades francesas, que votaram em massa na candidata socialista por causa do temor que um governo Sarkozy vá endurecer as leis migratórias.

"Tenho muito respeito pela madame Royal e por todos os milhões de franceses que votaram nela. O presidente da República deve amar e respeitar todos os franceses, e eu faço isso. Só há uma França para mim, e eu serei o presidente de todos os franceses."

Ségolène admitiu a derrota

Segundo a média dos quatro principais institutos de pesquisa do país (Ifop, CSA, Ipsos, TNS-Sofres), o conservador venceu a eleição com 53,5% dos votos, contra 46,5% da socialista Ségolène Royal.

Ségolène telefonou para parabenizar Sarkozy e admitiu publicamente a derrota: "O voto universal falou. Espero que o novo presidente da França cumpra sua palavra e consiga fazer um bom governo para o país", disse, enquanto era aclamada por seus eleitores, que gritavam agradecendo a ela. "A luta da esquerda continua", completou.

Festa

Os eleitores que escolheram o novo presidente do país não esperaram um resultado oficial para ir às ruas comemorar. Exatamente às 20h locais (15h em Brasília), assim que se encerraram as votações a TV anunciou o resultado das pesquisas e a festa teve início.

No início a comemoração aconteceu em frente ao comitê do partido conservador UMP, para onde Sarkozy se dirigiu após o resultado das pesquisas e de onde fez seu primeiro discurso como "presidente".

Muito aplaudido, ele retomou os temas da campanha, pregou a união, falou em reconstrução da Europa e parceria com os Estados Unidos e em seguida se retirou. Os eleitores seguiram, então para a Praça La Concorde, onde shows animaram a festa durante a noite.

Enquanto isso, na Praça da Bastilha, onde se reuniam os partidários da candidata socialista, a polícia precisou dispersar a multidão com bombas de gás, a fim de evitar protestos violentos. Mesmo assim, tanto em Paris quanto nas periferias havia pouca evidência de protesto e nenhuma expectativa de violência.

Recorde de participação

O segundo turno da eleição voltou a ter uma marca excepcional de participação de eleitores, como aconteceu duas semanas antes no primeiro turno. A presença de eleitores chegou 84,81% dos inscritos (o voto não é obrigatório na França), segundo balanço provisório do Ministério do Interior.

O presidente dos Estados Unidos, George W. Bush, o premiê britânico, Tony Blair, o presidente Horst Köhler, e a chanceler, Angela Merkel, da Alemanha, e o chefe do governo espanhol, o socialista José Luis Rodríguez Zapatero, foram os primeiros líderes mundiais a transmitirem mensagens de felicitações a Nicolas Sarkozy.

Explosão social

Alguns prevêem uma "explosão" nos bairros periféricos na noite do segundo turno caso ele seja eleito.

Como ministro do Interior, Sarkozy prometeu limpar as ruas com "mangueira de água" e chamou de "gentalha" os jovens delinqüentes que moram no subúrbio, pouco antes de explodirem as revoltas do segundo semestre de 2005.

Sarkozy usou estes adjetivos, com seu tom e sua forma de falar direta e compreensível para todos, empregando uma linguagem contrário ao habitual para a elite francesa.

Tentando se distanciar da imagem de uma classe política afastada das preocupações dos franceses, Sarkozy usou também o trunfo da proximidade, a "ação" e o "resultado", e uma gama de valores fáceis de identificar: o trabalho ("trabalhar mais para ganhar mais"), o mérito, a autoridade, a responsabilidade e o respeito.

Na concepção dos franceses, Sarkozy supera Royal em competência, coerência, feitio presidencial e capacidade de gerar soluções, mas fica muito distante no quesito "simpatia".

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