Em seu primeiro discurso como presidente-eleito da França, minutos depois de a média das pesquisas de boca-de-urna confirmarem sua vitória sobre a socialista Ségolène Royal no segundo turno das eleições, Nicolas Sarkozy voltou a usar o tema da união, trabalhado em sua campanha, para negar a divisão do país.
"A minha vitória não é a vitória de uma França sobre a outra. É a vitória da democracia, e eu vou fazer o que puder para ter todos os franceses unidos", disse, muito aplaudido e seguido mais uma vez, pela Marselhesa, o hino francês.
O discurso tenta atrair a simpatia das periferias das grandes cidades francesas, que votaram em massa na candidata socialista por causa do temor que um governo Sarkozy vá endurecer as leis migratórias.
"Tenho muito respeito pela madame Royal e por todos os milhões de franceses que votaram nela. O presidente da República deve amar e respeitar todos os franceses, e eu faço isso. Só há uma França para mim, e eu serei o presidente de todos os franceses."
Ségolène admitiu a derrota
Segundo a média dos quatro principais institutos de pesquisa do país (Ifop, CSA, Ipsos, TNS-Sofres), o conservador venceu a eleição com 53,5% dos votos, contra 46,5% da socialista Ségolène Royal.
Ségolène telefonou para parabenizar Sarkozy e admitiu publicamente a derrota: "O voto universal falou. Espero que o novo presidente da França cumpra sua palavra e consiga fazer um bom governo para o país", disse, enquanto era aclamada por seus eleitores, que gritavam agradecendo a ela. "A luta da esquerda continua", completou.
Festa
Os eleitores que escolheram o novo presidente do país não esperaram um resultado oficial para ir às ruas comemorar. Exatamente às 20h locais (15h em Brasília), assim que se encerraram as votações a TV anunciou o resultado das pesquisas e a festa teve início.
No início a comemoração aconteceu em frente ao comitê do partido conservador UMP, para onde Sarkozy se dirigiu após o resultado das pesquisas e de onde fez seu primeiro discurso como "presidente".
Muito aplaudido, ele retomou os temas da campanha, pregou a união, falou em reconstrução da Europa e parceria com os Estados Unidos e em seguida se retirou. Os eleitores seguiram, então para a Praça La Concorde, onde shows animaram a festa durante a noite.
Enquanto isso, na Praça da Bastilha, onde se reuniam os partidários da candidata socialista, a polícia precisou dispersar a multidão com bombas de gás, a fim de evitar protestos violentos. Mesmo assim, tanto em Paris quanto nas periferias havia pouca evidência de protesto e nenhuma expectativa de violência.
Recorde de participação
O segundo turno da eleição voltou a ter uma marca excepcional de participação de eleitores, como aconteceu duas semanas antes no primeiro turno. A presença de eleitores chegou 84,81% dos inscritos (o voto não é obrigatório na França), segundo balanço provisório do Ministério do Interior.
O presidente dos Estados Unidos, George W. Bush, o premiê britânico, Tony Blair, o presidente Horst Köhler, e a chanceler, Angela Merkel, da Alemanha, e o chefe do governo espanhol, o socialista José Luis Rodríguez Zapatero, foram os primeiros líderes mundiais a transmitirem mensagens de felicitações a Nicolas Sarkozy.
Explosão social
Alguns prevêem uma "explosão" nos bairros periféricos na noite do segundo turno caso ele seja eleito.
Como ministro do Interior, Sarkozy prometeu limpar as ruas com "mangueira de água" e chamou de "gentalha" os jovens delinqüentes que moram no subúrbio, pouco antes de explodirem as revoltas do segundo semestre de 2005.
Sarkozy usou estes adjetivos, com seu tom e sua forma de falar direta e compreensível para todos, empregando uma linguagem contrário ao habitual para a elite francesa.
Tentando se distanciar da imagem de uma classe política afastada das preocupações dos franceses, Sarkozy usou também o trunfo da proximidade, a "ação" e o "resultado", e uma gama de valores fáceis de identificar: o trabalho ("trabalhar mais para ganhar mais"), o mérito, a autoridade, a responsabilidade e o respeito.
Na concepção dos franceses, Sarkozy supera Royal em competência, coerência, feitio presidencial e capacidade de gerar soluções, mas fica muito distante no quesito "simpatia".