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Curitiba – As semelhanças entre a história recente da Polônia e a do Brasil se impõem mesmo diante das circunstâncias adversas. O movimento Solidariedade e o Partido dos Trabalhadores (PT) surgiram praticamente ao mesmo tempo em oposição à ditadura. Enquanto o Solidariedade enfrentava a ditadura comunista, o PT protestava contra o governo militar pró-Estados Unidos. Os líderes das duas organizações, o ex-eletricista Lech Walesa e o ex-torneiro mecânico Luiz Inácio Lula da Silva, respectivamente, foram recebidos pelo Papa João Paulo II. Walesa chegou ao poder uma década antes de Lula, mas agora ambos parecem partilhar das mesmas conclusões. Walesa acaba de anunciar que está deixando o Solidariedade por considerar que o movimento mudou muito, e Lula tenta se afastar da crise do PT, dizendo-se traído por antigos companheiros. Como se tais semelhanças não bastassem, a Polônia também investiga denúncias de corrupção no governo.

"O PT e o Solidariedade nasceram da crise de duas formas de ditadura", frisa o historiador Lincoln Secco,da Universidade de São Paulo (USP). Da mesma forma que a flexibilização dos direitos trabalhistas gerou críticas aos sindicatos brasileiros, os braços do neoliberalismo teriam minado o governo de Walesa (1990–1995). Os dois grupos enfrentam ainda, de forma similar, as mudanças nas relações internacionais atribuídas à globalização, apesar de o governo brasileiro mover-se para a centro-esquerda e do polonês, para a direita. "Os dois países partem de situações diferentes, mas sem dirigem ao mesmo caminho", afirma Secco.

O PT dividiu o papel de transição para a democracia com outros partidos, observa o vice-cônsul da Polônia em Curitiba, Jacek Padée. Ele diz que o Solidariedade se encarregou de tarefas assumidas pelo partidos que participaram da elaboração da Constituição brasileira de 1988. Líderes como Ulysses Guimarães, morto em 1992, também podem ser comparados a Walesa, sugere.

Na Polônia, a tendência é de alternância no poder entre representantes da antiga esquerda e da direita. No Brasil, esse movimento pode se confirmar nas eleições presidenciais do ano que vem, quando um PT enfraquecido por denúncias de corrupção terá que enfrentar antigos rivais diante de um eleitorado descrente.

Herança idênticaPadée acredita que as semelhanças entre a história dos dois países são determinadas em boa parte pela herança da ditadura. A pobreza está para o Brasil assim como o desemprego de quase 20% está para a Polônia. "Não passou tanto tempo assim", completa.

As ligações das centrais sindicais e dos movimentos sociais com o PT ainda são fortes, considera Secco. Ele diz que, apesar de descontentes, a Central Única dos Trabalhadores (CUT) e o Movimento dos Trabalhadores Rurais Sem-Terra (MST) devem permanecer do lado do líder petista. Para o especialista, Lula já representa uma nova geração dentro do PT, "que se traveste de inovadora". Ele acredita que, na próxima campanha eleitoral, o atual presidente vai tentar se afastar ainda mais do PT em crise, do mesmo modo que Walesa se recusa a simbolizar sindicatos que perderam poder de mobilização. (JR)

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