Tegucigalpa - Descontente com o formato das negociações iniciadas ontem, o presidente deposto de Honduras, Manuel Zelaya, afirmou que o diálogo começou com "maus presságios e que não reconhecerá as eleições de 29 de novembro caso não seja restituído ao cargo dentro de uma semana.
"Estamos todos de acordo de que, se não há uma restituição (...) até 15 de outubro, por falta de validade, por falta de credibilidade, de confiança das comunidades nacional e internacional, fica sem valor nem efeito o calendário eleitoral elaborado, disse Zelaya, em entrevista coletiva no jardim da Embaixada do Brasil em Tegucigalpa, onde está refugiado com cerca de 50 familiares, assessores e seguidores há 18 dias.
Apesar do tom de unidade que quis dar, o ultimato de Zelaya não foi consenso entre os que o apoiam. O candidato presidencial independente de esquerda Carlos H. Reyes disse que ainda fará uma avaliação à parte sobre se participará ou não das eleições. "Como sindicalista, não costumo usar prazo. Depois não funciona, e aí fazemos o que com ele?, disse, por telefone, um dos dois candidatos presidenciais que apoiam a volta de Zelaya, de um total de seis.
O presidente deposto também tem demonstrado irritação com a forma na qual as negociações foram traçadas pela Organização dos Estados Americanos (OEA) em que não se prevê um acordo definitivo até hoje, como era a sua expectativa.
"Manipulação"
"O diálogo está começando com maus presságios, com a repressão, fechamento de meios de comunicação e ainda pela manipulação até do programa que está sendo implementado, afirmou Zelaya, também na coletiva, pela manhã.
A reclamação fez representantes diplomáticos anteciparem a visita a ele na embaixada de hoje (como inicialmente previsto) para a noite de ontem.
Mediação
O secretário-geral da OEA, José Miguel Insulza, abriu ontem a negociação de uma solução para a crise hondurenha com o reforço da pressão da comunidade internacional para a restituição de Zelaya, como prevê o Acordo de San José. Insulza agregou ainda sete outras exigências, entre as quais o fim do estado de sítio que vigora no país desde o dia 26 e a retomada das transmissões da Rádio Globo e do Canal 36 de televisão, que foram fechados pelo governo de fato dois dias depois.
As negociações foram abertas com uma hora e meia de atraso porque, apenas algumas horas antes, os três representantes de Zelaya tiveram autorização do governo de fato para entrar na embaixada brasileira, onde receberam instruções.
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Cenários
Fonte: Reuters
Veja possíveis resultados das negociações que começaram ontem para pôr fim à crise em Honduras:
Zelaya volta,mas com restrições
- Sob isolamento internacional, o governo de fato poderia aceitar a volta de Zelaya ao poder, mas com restrições à sua autoridade. Isso significaria uma aceitação do formato básico do acordo de San José. Mas os detalhes sobre a formação do governo de unidade e a anistia que permitiria o regresso de Zelaya demorariam mais.
Terceiro nome
- Com uma crise que já dura mais de três meses, ambos os lados podem ser convencidos a ceder. Uma proposta seria escolher um terceiro nome considerado aceitável para atuar como presidente interino até janeiro, quando o mandato de Zelaya terminaria. Micheletti já disse estar disposto a renunciar se isso ajudar a superar a crise. Mas Zelaya não parece disposto a aceitar tal opção.
Negociação fracassa
- No pior cenário, as negociações fracassam com relação ao ponto principal, a restituição de Zelaya na Presidência. Com a suspensão das restrições à imprensa e às manifestações populares, a ser oficializada nos próximos dias, os seguidores de Zelaya podem tomar as ruas para pressionar por sua volta. Zelaya, Micheletti e Honduras como um todo poderiam sofrer isolamento e condenação internacionais.
Acordo limitado
- O chamado Acordo de San José, uma tentativa de mediação realizada no começo da crise pelo presidente da Costa Rica, Óscar Arias, e que pede a restituição do poder a Zelaya, seria modificado. A nova proposta se limitaria a manter o diálogo e as concessões, como o relaxamento do cordão de segurança em torno da embaixada brasileira. Micheletti, que recebeu a primeira visita de dignitários estrangeiros de primeiro escalão, pode estar ganhando tempo. Ele insiste que as eleições de novembro são cruciais para o fim da crise. Ainda há muitas dúvidas sobre o futuro de Zelaya. Líderes empresariais apresentaram uma proposta, rejeitada pelo presidente deposto, em que ele aceitaria a prisão domiciliar até as eleições. Ele provavelmente ficará na embaixada brasileira se o cerco for relaxado e ele puder ali conversar com políticos e negociadores.