O presidente deposto de Honduras, José Manuel Zelaya, elogiou o apoio do Brasil ao seu pleito para ser restituído ao cargo, mas reclamou que os Estados Unidos podem "fazer mais" para pressionar o governo golpista do país centro-americano.
"Os Estados Unidos mantiveram uma posição firme (contra o golpe) mas podem fazer mais porque 70% da economia hondurenha depende do comércio com os EUA. Os EUA podem estrangular mais facilmente os golpistas e reverter esse mau exemplo para a América Latina", disse Zelaya.
Zelaya teve nesta quarta-feira (12) uma reunião em Brasília com o presidente do Brasil, Luiz Inácio Lula da Silva, como parte da sua gestão internacional para recuperar o poder em Honduras. Ele foi afastado por um golpe de Estado em 28 de junho.
Em Tegucigalpa, a polícia dispersou com bombas de gás lacrimogêneo uma manifestação a favor de Zelaya. O protesto percorreu avenidas principais da cidade e foi até as vizinhanças do Congresso, onde foi disperso. Os manifestantes agrediram o vice-presidente do legislativo hondurenho.
Os distúrbios começaram quando um grupo de manifestantes atacou e golpeou na rua o vice-presidente do Congresso, Ramón Velázquez, que saia do seu escritório na legislatura. O político, do Partido Democrata Cristão, recebeu socos e chutes, constatou a Associated Press.
Na véspera, 43 pessoas foram detidas em outra manifestação a favor de Zelaya, após tumultos nos quais foram incendiados um ônibus e um restaurante de fast-food. As informações são da Associated Press.
Senado
Depois de visitar Lula, Manuel Zelaya se reuniu com o presidente do Senado, José Sarney (PMDB-AP). Em um encontro de pouco mais de dez minutos no gabinete de Sarney, Zelaya agradeceu o empenho das lideranças brasileiras em favor do seu retorno ao comando do país.
Sarney garantiu "inteira solidariedade" a Zelaya e, em seguida, acompanhou o presidente de Honduras até o plenário da Casa. Parlamentares do PT, PCdoB e PSOL também manifestaram apoio ao retorno de Zelaya. "Jamais podemos aceitar a interferência no processo democrático de um país, sem o nosso protesto e a nossa luta para que isso possa ser superado", disse Sarney.
"Honduras está resistindo a um duro golpe político há 46 dias. Está resistindo a violação dos direitos humanos, censura da imprensa e torturas", denunciou Zelaya.
O líder hondurenho acompanha a sessão do Senado sem o tradicional chapéu que vem marcando as suas aparições. O líder do PT, Aloizio Mercadante (SP), disse a Zelaya que o Parlamento do Mercosul pediu a suspensão de todos os acordos bilaterais com o governo de Honduras, até que o líder de Honduras retorne ao poder.
Reunião no Chile
Zelaya vai se reunir na quinta-feira (13), no Chile, com a presidente Michelle Bachelet, como parte das ações do governo chileno para promover a restituição dele ao poder.
"Respondendo a um convite da presidente, conseguimos acertar as agendas e o presidente de Honduras, José Manuel Zelaya, vem visitar o Chile amanhã", disse a jornalistas ministro das Relações Exteriores chileno, Mariano Fernández.
A reunião está marcada para as 12h30 (13h30 em Brasília), acrescentou o chanceler chileno.
"A visita do presidente Zelaya insere-se naturalmente na ação do governo do Chile, que promove a restauração da democracia em Honduras e o restabelecimento do presidente Zelaya como presidente constitucional eleito", afirmou Fernández.
O Chile condenou o golpe de Estado no país centro-americano e recusou-se a reconhecer o governo de facto de Roberto Micheletti, que assumiu o poder com a ajuda de militares.