Acorda, Brasil! Quem decide é o povo!
Não é de hoje que ditadores tiranos sonham em transformar a América do Sul num antro comunista. Em 1964, fomos salvos de um golpe que estava prestes a ser dado no governo do presidente João Goulart. Muitos cidadãos que viviam na época dizem que o Brasil estava às portas do inferno. Vendo o Brasil prestes a se tornar uma ditadura comunista, o povo se uniu e foi às ruas solicitar a intervenção constitucional das Forças Armadas no governo federal.
Depois da tomada do poder, os militares espantaram os monstros comunistas que batiam à nossa porta. O Brasil saltou de 49.ª para 8.ª economia mundial. Havia investimento em todos os campos do país. Mas os guerrilheiros simpatizantes de regimes ditatoriais nunca desistiram de aplicar o golpe comunista no Brasil: primeiro, com assaltos, aliciamento de pessoas de classe baixa, sequestros, atentados a bomba. Por fim, conquistaram o povo com mentiras. Associaram-se a sindicatos, ganharam muitas pessoas no papo e, por fim, chegaram à Presidência da República.
Leia a opinião de Maria Araújo e Cristina Peviani, integrantes da organização nacional da Marcha das Famílias com deus pela Liberdade.
(*Sínteses é uma coluna publicada semanalmente que apresenta duas opiniões divergentes sobre o mesmo tema)
Esclarecimento
A Gazeta do Povo esclarece que as visões publicadas nos artigos e colunas são de única responsabilidade de seus próprios autores. Apenas as opiniões expressas em editorial podem ser consideradas como sendo da Gazeta do Povo. Ressaltamos que o artigo em questão foi publicado na seção "Sínteses", que propõe um tema para discussão e expõe argumentos opostos a respeito desse assunto. A Gazeta do Povo quer, nesta ocasião, reforçar seu profundo compromisso com a democracia, expresso em diversos editoriais ao longo de seus 95 anos de história, e seu repúdio a quaisquer tentativas de ruptura da ordem democrática estabelecida.
A "Marcha da Família com Deus", prevista para 22 de março, não passa de uma caricatura da defesa legítima de instituições como família e religião na vida da sociedade civil; noutras palavras, um simulacro da mentalidade conservadora. Para reforçar os traços, a marcha vem acompanhada de um pedido nostálgico de "intervenção militar constitucional", demonstração da flagrante confusão entre "intervenção constitucional" e "golpe de Estado".
De fato, um conservador reconhece que as pessoas prosperam melhor quando a vida é tecida pela fé numa ordem superior (no caso de um conservador religioso e no caso de um conservador ateu há pelo menos o reconhecimento da importância das tradições religiosas na formação espiritual de uma sociedade), e dentro de um âmbito familiar seguro. A família precede o Estado, a consciência individual precede a família. Deste modo, o ordenamento de uma sociedade deriva destes fundamentos: consciência individual, família e tradição religiosa.
O homem é um ser insuficiente. Um conservador é politicamente cético devido à fragilidade da natureza humana e, por isso, acredita que, ao se tentar derivar a ordem de sociedade da própria humanidade, os homens não constroem outra coisa senão valas para o descarte daqueles que não superaram a antiga fragilidade.
Quando a ação política é orientada por princípios de uma genuína mentalidade conservadora, não podemos cair na tentação desse tipo de inspiração nostálgica e ideológica: quem valoriza família e Deus (ou, pelo menos, a importância da religião na vida da sociedade), em última instância, reconhece os limites extremamente bem definidos para barrar a intervenção do Estado na vida dos indivíduos. Família e tradição religiosa formam a consciência pelo lado de dentro; a força coercitiva do Estado atua externamente escravizando.
O conservadorismo não quer congelar o passado. O conservador considera, ao voltar os olhos para sua própria consciência, a ordem das coisas permanentes e, por isso, rejeita o modo de viver de homens ocos e infantilizados. Um movimento pela família e pela fé em Deus deveria, antes de tudo, desprezar toda caricatura ideológica, tal como despreza a ação revolucionária, a superstição progressista em relação à natureza humana e à história e o triunfalismo estatal.
A proposta desse movimento só demonstra uma coisa: um anseio por ordem que perdeu o senso de proporção e contato com a história e a realidade. Revela muito mais a atitude imprudente de adolescentes sem memória e perspectiva tomados por um sentimento difuso e descabido de medo diante da possibilidade de instauração de um regime comunista, real ou suposta, do que o reconhecimento efetivo da situação atual da política.
Não há como negar o caráter irredutivelmente pluralista, pós-cristão e cada vez mais secularizado da nossa sociedade. E é com este caráter que os conservadores precisam aprender a lidar. A política, para um conservador, deve significar a arte de mundos possíveis em detrimento da construção imaginária de mundos ideais e nostálgicos, a despeito de fantasias e fantasmas históricos que não terminam de morrer. Combate-se a ameaça totalitária com prudência, estabilidade moral e independência. Virtudes positivas, enfim.
Francisco Razzo é mestre em Filosofia pela Pontifícia Universidade Católica de São Paulo.
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