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A carne e a limpeza ética

 | Jonathan Campos/Gazeta do Povo
(Foto: Jonathan Campos/Gazeta do Povo)

Recente estudo da Organização das Nações Unidas para a Alimentação e a Agricultura (FAO) prevê que, para suprir a demanda mundial de alimentos, produção e oferta terão de crescer 40% nos próximos 20 anos. Com o crescimento da população e a mudança de hábitos de alimentação, especialmente nos países emergentes, a dieta que hoje é composta por 20% de proteína animal deve chegar a 30% no mesmo período. Ao Brasil destina-se a tarefa de suprir quase a metade dessa produção suplementar, pelo nosso imenso potencial de terras agricultáveis, clima, área, enfim, recursos naturais abundantes.

E é com esse cenário, ao mesmo tempo desafiador e promissor, que amanhecemos no último dia 17 com uma avalanche de notícias de uma ação criminosa que envolveu parte de nossa indústria de carnes, que em conluio com inescrupulosos do serviço público projetou para o mundo uma imagem feia e podre que não representa a realidade de nossa fantástica cadeia produtiva da carne. O Brasil tem o segundo maior rebanho do mundo, com 22,5% do total de cabeças de bovinos, sendo o maior exportador. Na produção de carnes de aves e suínos também ocupamos posição de destaque no mercado mundial. Assim, o setor de carnes e derivados é responsável por 16% do total de nossas exportações, contribuindo com esse porcentual para que o agronegócio deposite quase 50% dos valores de todas as exportações do país.

O Brasil não pode ficar sem o agronegócio nem em tempos de bonança, muito menos em tempo de crise

Não conquistamos a vanguarda do agronegócio mundial apenas por nossas riquezas naturais. Ocupando atualmente uma área cultivada em torno apenas de 30% do total do território nacional, preservando mais de 60% das florestas nativas – o que não pode ser visto em nenhum outro país –, os brasileiros de todos os estados dedicaram décadas de trabalho, de investimentos, de busca de novas tecnologias para a conquista de mais produtividade e mais qualidade dos alimentos produzidos. Podemos incluir aí as cooperativas, empresários da indústria, técnicos da pesquisa e da assistência técnica e do próprio sistema de fiscalização, que dedicaram anos a fio para chegarmos a conquistar o mundo com a nossa marca, com a nossa maior vocação, que é um verdadeiro patrimônio nacional: produzir alimentos.

O Brasil não pode ficar sem o agronegócio nem em tempos de bonança, muito menos em tempo de crise devastadora que infelicita mais de 10 milhões de trabalhadores desempregados. Desvendar os fatos, dimensionar os estragos desse processo e punir de forma exemplar os que participaram deles compete à polícia, ao Ministério Público e à Justiça. Não vamos nem discutir aqui os prejuízos econômicos e sociais que teremos se não conseguirmos mostrar ao mundo que não é essa minoria que nos representa. Levamos décadas na construção de uma nação soberana e imprescindível para a segurança alimentar mundial – que se extirpe o mal e que se preserve a nossa moral e a nossa dignidade.

Mas neste caso não podemos cometer a injustiça de arrastarmos para a mesma podridão toda a cadeia produtiva de carne. A esmagadora maioria das pessoas que trabalham na fiscalização e na comercialização é seguidora das rigorosas regras legais, morais e éticas que se exigem para garantir a segurança alimentar da população.

É hora de valorizar as pessoas de bem deste país e fazer uma faxina em todos os setores para eliminar quem despreza a ética e a dignidade.

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