A grita do empresário Cláudio Slaviero em artigo publicado nesta Gazeta do Povo no dia 18 de abril segue à risca o mantra vazio dos pseudoluminares da nova direita do país, como o analfabeto político mirim Kim Kataguiri, do Movimento Brasil Livre (MBL). Recruta do reacionismo raso, o batedor de panelas paranaense desfila um festival de desinformação e cinismo. É lamentável e empobrecedor que se trate publicamente da corrupção com a cegueira seletiva e hipocrisia com que Slaviero a aborda.
A corrupção é um problema histórico no Brasil. É endêmica e capilarizada. “Faz parte de uma mentalidade coletiva”, apontou o ex-ministro do STF Carlos Ayres Britto. Está incrustada em todos os flancos da nossa sociedade. Não distingue partidos nem governos. Está na Petrobras da mesma forma que no metrô de São Paulo, na Receita Estadual de Londrina, no Paraná, e no mensalão em Minas Gerais.
Mais do que no setor público, a corrupção está presente na iniciativa privada. Em artigo publicado na Folha de S.Paulo em novembro, o empresário filiado ao PSDB Ricardo Semler foi certeiro ao dizer que “não se vende para montadoras e multinacionais sem antes dar propina para o diretor de compras”. Semler clareou o assunto ao apontar a “santa hipocrisia” daqueles que gritam contra a corrupção na Petrobras. “Onde estavam os envergonhados nas décadas em que houve evasão de R$ 1 trilhão – 100 vezes mais do que o caso da Petrobras – pelos empresários?”
Os governos do PT criaram condições para garantir plena autonomia aos órgãos investigadores
Por fim, o empresário tucano, antítese de Slaviero, aponta a queda na corrupção no Brasil nos últimos anos. “É ingênuo quem acha que poderia ter acontecido [a Operação Lava Jato] com qualquer presidente. Com bandalheiras vastamente maiores, nunca a Polícia Federal teria autonomia para prender corruptos cujos tentáculos levam ao próprio governo”.
Nenhum governo combateu tanto a corrupção quanto as gestões petistas. Antes do governo do ex-presidente Lula, as políticas de combate às mazelas com o dinheiro público eram incipientes. Lula criou a Controladoria-Geral da União e deu autonomia à Polícia Federal. O ex-presidente também implantou o Portal da Transparência, regulamentou o pregão eletrônico e criou o Cadastro de Empresas Inidôneas (Ceis).
Da mesma forma, em 2012 a presidente Dilma aprovou a Lei de Acesso à Informação, permitindo que todo cidadão tenha acesso a informações públicas, direito expresso na Constituição de 1988. No ano passado, entrou em vigor a lei que define a figura do corruptor e responsabiliza empresas por atos contra a administração pública, com multas que podem alcançar até 20% do faturamento.
A ampla repercussão das operações da PF, com cada vez mais prisões e condenações, criou no país a sensação de que a corrupção cresceu nos últimos anos, o que não é verdade. Os governos do PT criaram condições para garantir plena autonomia aos órgãos investigadores. Nos governos Lula e Dilma, a corrupção não foi varrida para debaixo do tapete.
A corrupção deve ser enfrentada implacavelmente em todos os níveis, dentro dos marcos do Estado de direito, e jamais de forma seletiva, facciosa e espetaculosa.