Poucos na imprensa entenderam a dimensão das manifestações no último domingo. O que mais se vê é a comparação entre as manifestações de 15 de março e de 12 de abril. Como na primeira data houve mais gente do que na segunda, a conclusão imediata aponta que os movimentos anti-PT perderam o poder de mobilização. Alto lá.
É notório que, em geral, desde o início dos protestos contra o governo Dilma e o PT, a imprensa tradicional demonstra uma espécie de má vontade com tais fatos. Num primeiro momento, distorcia os números e destacava o irrelevante, como a minoria mínima que pedia intervenção militar. Provados a grandeza e o caráter democrático das manifestações, já não havia mais como esconder a verdade: o povo saiu às ruas legitimamente, respeitando as regras da Constituição Federal, aliás, exercendo seu direito constitucional à liberdade de expressão. Agora, seja por ignorância política, má vontade ou miopia, a moda é alardear que o movimento encolheu, perdeu força e virou pó.
Independentemente dos motivos, a conclusão é falha quando o observador adota as manifestações de 15 de março como a referência a ser superada. Aquela foi a maior manifestação da história do país desde as Diretas Já e, por isso mesmo, dificilmente se repetirá. O 12 de abril levou às ruas da capital paranaense cerca de 50 mil pessoas (a PM fala em 40 mil e os organizadores, em 60 mil), o que coloca o evento na mesma dimensão do comício das Diretas, que até março último tinha sido o maior evento político da história de Curitiba. Ou seja, se o 15 de março não tivesse acontecido, o 12 de abril seria histórico. Na verdade, foi.
É preciso reconhecer que os organizadores erraram ao propagandear os eventos de 12 de abril com slogans que prometiam um evento maior que o anterior. Precisaríamos estar numa situação pré-revolucionária para que aquele nível de mobilização fosse mantido – a revolução aqui acontece intrainstituições e não via massas – e isso também induziu muitos a concluírem erroneamente que o segundo evento foi fraco.
Se o 15 de março não tivesse acontecido, o 12 de abril seria histórico. Na verdade, foi
Ocorre que os movimentos que emergem no Brasil não se resumem em mobilizar pessoas para ir às ruas; são portadores de um conjunto de ideias e catalisadores de demandas. A mobilização de pessoas foi feita e será feita sempre que o momento pedir, pois, além de organização, é indispensável que exista uma conexão entre a estratégia da liderança e o estado “psicológico coletivo” para viabilizar a mobilização voluntária. O momento pede conexão com a política institucionalizada.
Não se trata de “mudar a estratégia e abandonar as ruas”, mas sim de uma nova etapa da ação política. Primeiro, englobam-se as ideias; depois, solidifica-se o movimento com a conquista da legitimidade popular; e, em seguida, busca-se a implementação na via institucional. É por isso que a batalha, agora, é em Brasília.
Aqueles da imprensa que alardearam o “fracasso” do 12 de abril, que os movimentos perderam força ou desapareceram provarão apenas que não entenderam nada, seja por ignorância política, má vontade ou miopia. Ignorância farsesca, má vontade interessada ou miopia torpe.