Um processo eleitoral construído à base de bravatas já havia tirado da presidente Dilma Rousseff a credibilidade para comandar o país nesta difícil travessia da crise. Mas isso não bastou. Havia mais surpresas desagradáveis. Durante o primeiro ano do segundo mandato, sua imagem e a do partido foram definhando com as seguidas fases da Operação Lava Jato, escancarando o real caráter desta gente e suas pretensões de se perpetuar no poder lançando mão da improbidade.
No segundo ano, logo no início, outro duro golpe, com a prisão do seu marqueteiro a partir das fortes suspeitas da origem ilícita do dinheiro que financiou a campanha. Com esta sucessão de fatos graves, a autoridade legítima dos que estão agora no Palácio do Planalto derreteu. Estabeleceu-se um governo zumbi, que causa repulsa a cada ato e decisão. Mas o PT e seus aliados de plantão não se importam. A reação do ex-presidente Lula e da militância à condução coercitiva imposta pela Justiça Federal é um exemplo dramático disso.
E quais seriam as saídas? A hipótese mais otimista – uma renúncia da presidente Dilma para renovar a força institucional do governo e tirar o país do buraco – não se vislumbra. Não há ilusão de que aconteça tal gesto de grandeza porque o palácio está surdo e cego.
Estabeleceu-se um governo zumbi, que causa repulsa a cada ato e decisão
Na mesma Praça dos Três Poderes, o Congresso fracassa no seu papel fiscalizador. Os dois líderes das casas legislativas – Eduardo Cunha, da Câmara, e Renan Calheiros, do Senado – estão igualmente desmoralizados. Antes de querer salvar o país da incompetência e da corrupção do PT, eles querem mesmo é se safar de possíveis cassações e, por que não?, da cadeia. Enfim, “nunca antes na história deste país” houve tanta podridão simultaneamente no Planalto Central.
Importante atentar que não é só no setor público que há vácuos importantes de liderança. Organizações das mais diversas naturezas também repetem os mesmos pecados que contaminam a velha política. Há péssimos exemplos, com instituições que ignoram saudáveis protocolos de governança, como a alternância na presidência, a transparência nas contas e nos propósitos, a impessoalidade.
Então estamos perdidos? Não. Pessimismo demais faz mal e nos paralisa. O que deve nos mover neste momento é uma esperança serena: saber que neste país há milhares de homens e mulheres que lideram todos os dias pequenos e grandes negócios, gigantescas ou microinstituições, que conquistam dezenas, centenas ou milhares de brasileiros pela sua seriedade, competência e brilhantismo na gestão.
São estes que o sistema deveria cooptar para refazer o padrão ético dos homens públicos. É deles que precisamos após o processo de depuração que está em andamento. Gente que conquista a admiração e o respeito dos liderados pelo esforço, pela sabedoria e pelo senso de justiça. Se muitos brasileiros acreditarem nisso ao mesmo tempo, vamos superar esta desolação mais cedo ou mais tarde. Não é um delírio. É uma constatação. É aconselhável que continuemos com a cabeça erguida. E acreditar. Como se diz no interior ,“a turma da meia-noite nunca será maior e mais forte que a turma do meio-dia”.
Enquanto aguardamos este novo paradigma, nos resta o desejo de que a oposição cumpra da melhor forma o seu papel e não fuja da missão de desemperrar a engrenagem do país. Não se pode admitir hesitações em um situação tão extrema. A insatisfação popular contra o governo deve ser canalizada em um movimento encorpado, organizado e amplo. Quem se acha à altura deste desafio, que dê o primeiro grito. O país está ansioso por isso.
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