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A democracia tem sofrido uma série de tensões nos últimos anos em diversos países. Vários autores têm destacado um paradoxo evidente do regime democrático: por um lado, cada vez mais países estão tentando implantar alguma forma de democracia; mas, ao mesmo tempo e em diferentes lugares, surgem movimentos sociais que procuram demonstrar suas limitações. Trata-se de um preço para assumir a democracia como forma de governo, já que ela é a única que permite a formação de diferentes grupos que testam os limites do sistema e que têm entre os seus objetivos expandir as barreiras dentro das quais opera a forma representativa de governo.

O governo democrático representativo nos países industrializados foi desenvolvido num contexto de expansão progressiva dos direitos e liberdades individuais, em paralelo à expansão do Estado de bem-estar social. No caso dos países da América Latina, a situação era diferente. Nenhum país conseguiu ampliar significativamente os benefícios sociais e, no melhor dos casos, teve Estados de bem-estar social truncados, baseados principalmente em redes de clientelismo. Em seguida, os caminhos de democratização foram divergentes e em cada região foram desenvolvidas diferentes configurações políticas.

A América Latina teve Estados de bem-estar social truncados, baseados principalmente em redes de clientelismo

No entanto, apesar desses diferentes caminhos que nos levaram a vários resultados democráticos, uma série de fatores está forçando os limites da nossa democracia. Encontramos desde questões de ordem econômica e social, tais como o aumento do padrão de vida e da educação, o que resultou no surgimento de grandes classes médias; até o acesso a smartphones e o surgimento de mídias digitais, como Facebook, Twitter, blogs e a ampla gama de plataformas com acesso à internet que permitiram a geração de redes e identidades que atravessam fronteiras, fazendo com que movimentos sociais de diferentes países possam compartilhar valores e objetivos. A globalização e a força das instituições internacionais sem mecanismos de accountability colocam em xeque o desempenho democrático dentro dos limites do Estado-nação e, por fim, o sistema econômico e financeiro mundial impõe limitações nas quais os governos democráticos têm poucas alternativas.

Os cidadãos têm mostrado um descontentamento crescente pelos partidos políticos tradicionais, o que se tornou evidente em vários países. Como resultado, aumenta a influência de partidos de extrema-direita na Holanda, Áustria, França, Alemanha ou Reino Unido. Frente a isso, tentar melhorar o sistema representativo pode ajudar a melhorar os elementos processuais da democracia liberal; no entanto, eles se tornam insuficientes para expandir as oportunidades políticas dos cidadãos e sua inclusão na vida democrática das nações.

A democracia como sistema de governo tem encontrado uma série de obstáculos que levam a questionar a primazia que as visões processuais e liberais tiveram no debate para reduzir o exercício da democracia para o fortalecimento das instituições representativas e para os processos eleitorais, deixando de lado a geração de mecanismos participativos e o surgimento dos movimentos sociais. É necessário olhar para a frente para fortalecer a democracia com formas mais sofisticadas de participação e inclusão política.

Pablo Valenzuela é mestre em Ciência Política pela Universidade do Chile, pesquisador da corporação Latinobarometro em Santiago (Chile) e palestrante da 2ª Semana da Democracia, que ocorre em Curitiba até 16 de setembro.
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