Estamos na contramão das economias mais avançadas do mundo no que toca ao tipo de produção dominante
Não, paciente leitor, não me refiro à destruição de patrimônio público na USP por parte de uma turba revoltada porque a Polícia Militar prendeu três estudantes fumando maconha no campus. Em qualquer lugar no Brasil, é proibido fumar maconha, ainda mais em público, mas a "elite universitária" da USP parece pensar diferente; imagina gozar do benefício da extraterritorialidade para fazer o que quiser e não ser importunada por essas inconveniências como a lei brasileira e a polícia.
Não é senão uma pequeníssima minoria e o estudantado da USP é composto de pessoas responsáveis e serenas, capazes de entender os limites entre a inconformidade da juventude e a pura e simples selvageria? Então, onde está essa esmagadora maioria, quando a pequena minoria conspurca sua universidade, depreda o patrimônio que todos pagaram com seus impostos? Silenciosa como sempre, omissa como nunca.
Quando falo de destruição pouco criativa, estou tomando carona em um dos conceitos formulados por um dos economistas mais brilhantes de todos os tempos, Joseph Alois Schumpeter, a "destruição criativa". Schumpeter descrevia o processo de evolução econômica como um processo contínuo de criação e destruição de produtos, de bens ou serviços. A criatividade e a capacidade de inovação dos empreendedores identificam continuamente necessidades e desejos do mercado e criam produtos para atender a essa possível demanda. Se tais produtos forem bem-sucedidos, ganharão a simpatia e a preferência dos consumidores, mas, imediatamente outros empreendedores concorrentes começarão a agir para também criar novos produtos que tenham ainda maior capacidade de atender àquilo que os consumidores desejam ou pensam desejar. Agindo dessa forma, se forem bem-sucedidos levaram à "destruição" do valor de produtos que antes tiveram grande sucesso, levando-os à obsolescência, à irrelevância ou ao desaparecimento. A esse processo contínuo e ininterrupto de renovação e oxigenação do mercado, Schumpeter denominava de "destruição criativa".
Ora, que está acontecendo com a economia brasileira? Na realidade estamos vivendo um processo de destruição pouco criativa, no sentido de que estamos na contramão das economias mais avançadas do mundo no que toca ao tipo de produção dominante. Enquanto o mundo desenvolvido inova, sofistica seus produtos, agrega valor ao que faz, o Brasil anda na marcha-ré, firmemente decidido a ser um celeiro de matérias primas e de minerais. Voltamos a ser majoritariamente um país exportador de produtos primários, de alimentos e de commodities minerais. Infelizmente, as estatísticas são claras: em 2010, os produtos primários representaram 44,6% das exportações brasileiras, enquanto que as manufaturas não passaram de 39,4%. Assim, voltamos atrás 32 anos, pois a predominância das exportações de bens primários não acontecia desde 1978, quando o Brasil começou a se afirmar internacionalmente como um produtor industrial de peso.
Dirão os mais otimistas que o Brasil em 2011 vai exportar 60 bilhões a mais do que no ano passado e que, hoje em dia, exportar commodities é diferente do que era 30 anos atrás, quando os preços industriais subiam de elevador e os preços dos bens primários subiam pela escada, pois agora é o contrário.
Enquanto isso, um sem-número de setores industriais em nosso país está definhando por não conseguir competir com importados beneficiados por uma paridade cambial extremamente perversa com os exportadores e generosa com os importadores. De novo os otimistas dirão dizer que "quem não tem competência não se estabelece!". Na realidade, é muito difícil se manter competitivo quando para cada três telefonemas que se dá, paga-se um quarto em impostos, e em cada quilovate consumido você paga 35% em impostos e contribuições e a má qualidade da infraestrutura faz com que uma tonelada de soja custe mais em frete para vir das zonas de produção para o porto do que para ir de um porto brasileiro até um porto no outro lado do mundo. Mas essa é outra e dolorosa história de destruição nada criativa.
Belmiro Valverde Jobim Castor é professor do doutorado em Administração da PUCPR.
Deixe sua opinião