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O desempenho de Henrique Meirelles nos primeiros cem dias à frente da nova equipe econômica foi bastante bom, especialmente se considerarmos o caráter de interinidade do governo de Michel Temer. A despeito de certas medidas ambíguas não terem agradado ao mercado, como a retirada da proibição de reajuste salarial de servidores, no âmbito da renegociação da dívida com os estados, as demais iniciativas sugerem (apesar de ainda no campo das boas intenções) a necessária austeridade fiscal, origem de grande parte do descontrole das contas públicas e da perda do grau de investimentos do Brasil.

Praticamente todas essas medidas são estruturais – como a essencial PEC do limite de gastos – e objetivam organizar a economia, recuperando o tripé macroeconômico de outrora e ajudando a frear o crescimento de despesas a um ritmo superior ao da arrecadação de impostos. Lembremo-nos que os gastos cresceram, em média, 6% ao ano acima das receitas, nas últimas duas décadas. Além disso, a ideia de retornar às privatizações, como, por exemplo, a venda de parte da BR Distribuidora, aponta na direção correta. Outro aspecto relevante está na formação de uma equipe de profissionais de primeira linha para estatais, BNDES e Banco Central. Por fim, há de se louvar que, pelo menos por enquanto, a equipe não aumentou impostos, apesar de, segundo o próprio ministro, a hipótese não estar descartada.

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Minha crença é que a lua de mel com o mercado não se estenderá por muito mais tempo. Nesse sentido, precisa ficar cristalino que o imperioso ajuste fiscal terá dimensão e celeridade adequadas

A reação dos investidores também vem sendo muito positiva. Nos últimos dois meses, houve um espetacular desempenho do chamado “Kit Brasil”. O Ibovespa, principal indicador da bolsa brasileira, já apresenta alta de mais de 30% em 2016, retomando o fôlego dos melhores dias pré-crise de 2008. Também nossa moeda se apreciou fortemente ante ao dólar e demais divisas emergentes. Outro ponto que demonstra a confiança dos mercados nesse dream team foi a queda do risco país, medido pelo CDS (Credit Default Swap), que caiu quase pela metade em relação ao pior momento.

Mas nem tudo são flores. Apesar desse começo encorajador, muitos analistas já começam a se mostrar impacientes com as concessões feitas. Os que ainda se mantêm otimistas advogam que parte dessas “camaradagens excessivas” deve-se à interinidade do governo e que se faz necessário um dimensionamento político, para conquistar o apoio do Congresso. Para esses, logo após a aprovação do impeachment da presidente Dilma, novas medidas importantes deverão ser apresentadas à sociedade de forma mais incisiva, como a impopular proposta de reforma da Previdência.

Já os mais pessimistas entendem que Meirelles não terá força para desmontar o arcabouço político institucionalizado no país. Alguns dizem que o ministro planeja virar candidato à Presidência em 2018, o que restringiria, por óbvio, sua atuação. Outros simplesmente não acreditam que o governo Michel Temer, no caso do impeachment de Dilma prosperar, terá o devido apoio popular para exigir da sociedade os sacrifícios necessários.

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Minha crença é que a lua de mel com o mercado não se estenderá por muito mais tempo. Nesse sentido, precisa ficar cristalino que o imperioso ajuste fiscal terá dimensão e celeridade adequadas. Caso não seja assim, poderemos cair num abismo político preocupante. Dessa forma só nos resta fazer o que tem que ser feito, doa a quem doer.

Alexandre Espirito Santo é economista da Órama e professor do Ibmec-RJ