Impeachment. Bombas em professores. Lava Jato. Campanha eleitoral com dinheiro desviado da Receita Estadual. Propina. Aumento do IPVA. Ajuste fiscal. Auxílio-moradia para juízes. Conselho de Ética da Câmara. Caos nos presídios. Contas na Suíça. Crise política e econômica. Essas frases ganham cada vez mais destaque no noticiário nacional e local. Como é fácil perceber, todas elas se remetem direta ou indiretamente aos governos federal e estadual.
Diante do caos nos cenários de outras esferas de governo, poderíamos acreditar que a gestão municipal vai de vento em popa. Não vemos por aqui nenhuma denúncia grave de corrupção, nenhum aumento significativo de impostos e nenhuma grande repressão aos movimentos sociais.
Curitiba sempre foi conhecida como a cidade das aparências. Na área turística: árvores, asfalto, calçadas de mármore, segurança, exemplo, sustentabilidade, passarinhos e alegria. Na vida real: quarta capital mais violenta do país, grupos neonazistas, repressão policial, racismo institucional, desigualdade, sucateamento dos serviços públicos.
Hoje nem mesmo as políticas “para inglês ver” estão funcionando
Com a eleição de Gustavo Fruet, em 2012, muitos apostavam numa mudança significativa do modelo de gestão, pois seria o fim da direita tradicional no comando. No entanto, o que vemos hoje é nada mais nada menos que uma das piores gestões de todos os tempos. Isso mesmo – uma das piores de todos os tempos!
Se antes os investimentos se concentravam nas aparências, abandonando a periferia e os serviços essenciais, hoje nem mesmo as políticas “para inglês ver” estão funcionando. Até mesmo na lógica da direita a gestão tem sido um fracasso. Em outubro de 2015, os conselheiros tutelares foram surpreendidos por um apagão nos telefones por falta de pagamento. A Virada Cultural não teve o destaque de anos anteriores. A Rua São Francisco, moldada para receber a classe média cult, tem sido palco constante de repressão policial. O IPTU teve um aumento de 5%. As obras do metrô, tão propagadas durante as eleições, ainda não saíram do papel e não há nenhuma possibilidade de isso acontecer nos próximos meses.
Na saúde, a terceirização cresce a passos largos. A fundação privada avançou para todos os Centros de Atenção Psicossocial (Caps), Hospital do Idoso, Maternidade Bairro Novo e Unidades de Pronto Atendimento (UPA). As Unidades Básicas de Saúde estão repletas de residentes, pois não houve nenhum concurso público nos últimos quatro anos para repor o quadro de pessoal. Um profissional contratado pela fundação privada recebe menos da metade que um servidor concursado e tem jornada de trabalho ainda maior.
Na educação, mais de um terço de todos os Centros Municipais de Educação Infantil (Cmeis) são terceirizados, hoje existem mais de 70 centros nessa situação. Ao todo, faltam mais de 10 mil vagas na educação infantil. Como se não bastasse, a prefeitura anunciou o fechamento de berçários em 30 creches de Curitiba. Um verdadeiro desastre.
Até mesmo na questão ambiental, que já fez Curitiba ser conhecida nacionalmente como “cidade ecológica”, estamos cada vez pior. Em setembro de 2015, a Justiça Federal condenou o município a pagar uma indenização de R$ 20 milhões por danos causados às águas subterrâneas e prejuízos ambientais causados pelo lançamento de resíduos no Rio Iguaçu, oriundos do Aterro da Caximba.
O transporte público, também orgulho dos curitibanos no passado, está à beira de um colapso. Ônibus superlotados, greves constantes, aumento de tarifa, dívidas e ameaça de demissão de 2 mil trabalhadores por parte das empresas.
Enquanto as políticas sociais são enfraquecidas, a dívida do município só aumenta. Somente no primeiro ano de mandato de Fruet, a dívida pública cresceu 35%, saltando para quase R$ 1 bilhão. Isso sem contar os gastos da Copa do Mundo, que, como sabemos, foram concentrados nas áreas turísticas.
Apesar de não estar imerso num grande escândalo que ocupe espaço significativo na mídia, Fruet gerencia a prefeitura na mesma lógica dos governos Richa e Dilma, priorizando os de cima em detrimento dos de baixo. Sucateia os serviços públicos, aumenta a dívida pública e terceiriza as políticas sociais. Tenta manter as aparências de que vai tudo bem, mas não consegue nem mesmo pagar a conta de telefone das Ruas da Cidadania. Faz tudo que um ex-tucano poderia fazer.