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Há mais de três décadas, a Organização das Nações Unidas (ONU) considera o dia 21 de setembro o Dia Internacional da Paz. Este é um dia dedicado ao pensar e construir a paz no cenário internacional. Contudo, uma rápida observação do mesmo é o suficiente para perceber que a paz, nos seus mais variados entendimentos, encontra-se em xeque. É precisamente tal fato que torna o dia de hoje ainda mais relevante.

No seu entendimento mais restrito, a paz é pensada enquanto um simples cessar-fogo. Mesmo à luz deste entendimento limitado de paz, como uma mera ausência de conflitos violentos pelo globo, a cena internacional está longe de estar pacífica. Não é preciso muito para chegar a tal conclusão. Para tal, basta atentar para os conflitos mais visíveis, como na Síria; os mais esquecidos, como na República Centro-Africana; ou os ainda latentes, como na Ucrânia.

Em seu entendimento mais ampliado, a paz pode ser compreendida como a superação de estruturas – políticas, econômicas e sociais – que impedem a plena realização dos indivíduos por meio de uma vida digna e a consecução de uma maior justiça social. Sob esta ótica, basta atentar, por exemplo, para a aguda desigualdade de acesso aos mais variados recursos da cena internacional – dos financeiros e políticos aos alimentares – para perceber a violência estruturalmente presente.

A paz é muito mais do que a mera ausência de guerras e conflitos

A atual crise humanitária de refugiados, a mais grave desde a Segunda Guerra Mundial, é talvez a dinâmica internacional mais emblemática no evidenciar de que ambos os entendimentos de paz são, na verdade, interdependentes. Estes refugiados fogem essencialmente, mas não só, de zonas em conflito no Oriente Médio e no Norte da África, em busca de uma vida minimamente digna.

Em um ano em que o mote central da ONU para o dia de hoje é “Parceria para a paz: dignidade para todos”, é no mínimo calamitoso o tratamento que os refugiados estão recebendo ao tentar chegar à Europa – um continente onde “parceria” é uma palavra esquecida e “dignidade” é a última coisa que esses refugiados recebem em vários países. Tal tratamento é ainda mais nefasto justamente por tratar-se de um continente profundamente marcado pelo envio de grandes ondas de migrantes para o mundo e que tem enormes, e históricas, responsabilidades pelas instabilidades e conflitos nessas zonas do globo.

Nesse sentido, o dia de hoje deve servir para lembrar que a paz é muito mais do que a mera ausência de guerras e conflitos. Deve servir para lembrar que, enquanto não se buscar a superação de diferentes estruturas que mantêm profundas assimetrias no cenário internacional e que previnem a realização de uma vida digna, ele continuará distante de ser minimamente pacífico. Resta saber quando este de fato tornar-se-á o eixo central das relações internacionais.

Ramon Blanco, doutor em Relações Internacionais, é professor da Universidade Federal da Integração Latino-Americana (Unila).
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