A julgar pelas campanhas políticas que vemos Brasil afora, inaugurar-se-á em 2017 nova era em nosso país – uma era de grandes realizações, de um trânsito intenso de boas ideias nos centros de poder municipais, graças a uma renovação jamais vista, com novas atitudes, novas políticas, com muita consciência social, muito trabalho pelo bem comum e muitos, muitos direitos.
Boas ideias. Renovação. Novas atitudes. Consciência social. Direitos. Palavras-chave fortes, atraentes, usadas e abusadas em período eleitoral. Parecem dizer muito, mas, na verdade, aplicadas como meras peças publicitárias, são vazias de sentido. Preste atenção e veja à sua volta candidatos de segunda, terceira, quarta viagem falando em renovação; repetidores de slogans e frases de efeito posando como detentores de novas ideias; irresponsáveis que não estimam os impactos de novas leis prometendo direitos, vantagens e privilégios.
Analisemos as propostas apresentadas. Mas não basta que sejam boas – devem ser exequíveis
Os “direitos”, aliás, já fazem parte de uma estratégia antiga em nossa política. E é uma estratégia eficaz, pois nós, eleitores e cidadãos em geral, somos especialmente simpáticos à ideia de receber. Oferecer algo, contudo, é um pouco mais difícil – a não ser que usemos verbas públicas e façamos o “bem” com dinheiro alheio. O rol dos supostos direitos prometidos é vasto, em quantidade e irresponsabilidade, pois ignora-se que cada direito traz consigo uma proporcional carga de deveres e entra em conflito com outros direitos. Por exemplo, se estudantes não pagarem passagens no transporte público, como defendem muitos candidatos, essa conta será paga por todos os demais usuários (trabalhadores, em geral) e pelos empresários que subsidiam vale-transporte a seus funcionários. Além disso, a concorrência fugirá do processo e a qualidade do serviço, então monopolizado pelo Estado, tenderá a decair consideravelmente.
Mas nestas eleições há algumas novidades nas estratégias. Não se fala mais apenas em direitos e privilégios. Após tantos escândalos, depois das várias revelações de conchavos e conluios entre diferentes grupos políticos, econômicos e sociais, o brasileiro, em geral, está sem paciência para com políticos. Então, está na moda falar em “renovação”, “ideias”, “novas atitudes”. Assim como no caso dos direitos, as propagadas novidades destas eleições não passam do discurso. De uma forma ou de outra, no próximo domingo, esqueçamo-nos das palavras bonitas, das novas ideias, das boas intenções. Também deixemos de lado as amizades, as indicações de parentes, os pedidos de pessoas próximas que precisam manter seus empregos. Tenhamos em mente as realizações profissionais dos candidatos; analisemos sua trajetória dentro e fora da política. Assim, poderemos estimar se suas belas palavras se referem à realidade, se serão capazes de trabalhar de fato pelo bem comum, com atitudes e ideias decentes, responsáveis e eficazes.
Analisemos as propostas apresentadas. Mas não basta que sejam boas – devem ser exequíveis. Em tempos de redes sociais, de campanhas que dão especial atenção ao contato com o eleitor, exijamos resposta a questões cruciais. Não basta o político dizer o que fará. O principal é: como fará? Mais: quanto custarão as nobilíssimas ideias propagadas? O município tem recursos para isso? Aliás, é atribuição do município fazer o que se está prometendo? Questionemos impiedosamente: “Senhor candidato, qual será o impacto de suas maravilhosas ideias em nossos bolsos?” Se as respostas não forem imediatas, objetivas e coerentes, mude de ideia e exerça seu direito de procurar outra pessoa em quem votar.
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