| Foto: Nicholas Kamm/AFP

Quase todos na imprensa adoram demonizar Donald Trump. São os que foram pegos de surpresa com sua vitória, pois vivem numa bolha “progressista” e não se deram conta do grau de insatisfação popular com as bandeiras esquerdistas de Obama e Hillary Clinton, com o fracasso do welfare state e com os excessos do politicamente correto.

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A maioria das acusações direcionadas ao presidente eleito, portanto, deriva de preconceitos e de uma visão equivocada de mundo, que confunde globalização com “globalismo”, tolerância com a “marcha das minorias oprimidas” e diversidade com multiculturalismo. O povo cansou da retórica vazia do Partido Democrata e quer resultados concretos.

Mas, se os rótulos de “ultraconservador” ou “xenófobo” soam vazios, há uma crítica que de fato merece maior atenção: aquela que diz respeito ao protecionismo comercial do magnata. Ele de fato adota uma visão mercantilista da economia, na qual importar é ruim e exportar é bom. Trata-se de um equívoco já refutado por Adam Smith no século 18.

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Menos Estado, mais liberdade. Eis a receita. O protecionismo não faz parte dela

Não deixa de ser irônico ver a esquerda endossando a globalização liberal contra esse protecionismo, logo ela que sempre condenou o livre mercado global. Mas, ainda que fruto da hipocrisia ou do cálculo político, a denúncia em si é legítima. Trump vai prejudicar os próprios americanos se insistir num caminho protecionista.

É possível argumentar que o comércio mundial não tem sido tão livre assim, que governos como o chinês manipulam taxas de câmbio ou concedem inúmeros subsídios aos seus produtores. É tudo verdade, mas não quer dizer que a melhor resposta seja fechar ainda mais as fronteiras comerciais com tarifas.

“Quem quiser crescimento, e creio que este governo será amistoso com o crescimento, deve estar a favor dos mercados abertos”, disse o ministro das Finanças alemão, Wolfgang Schäuble, ao Wall Street Journal. E acrescentou: “O protecionismo pode dar vantagens no curto prazo, mas quase sempre é danoso no longo prazo”. Todo brasileiro tem obrigação de concordar com ele!

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Sabemos muito bem como o protecionismo é prejudicial à economia, ao progresso e especialmente aos consumidores. Protege-se somente um grupo seleto de “amigos do rei”, de produtores locais à custa da população toda.

Trump pode até desejar usar essa cartada como trunfo nas negociações geopolíticas, para pressionar pelo fim ou redução de medidas protecionistas dos outros países. Mas é uma estratégia extremamente arriscada, que pode terminar com mais e não menos barreiras ao comércio global.

Não é porque outros governos punem seus consumidores erguendo barreiras que devemos aplaudir quando o nosso governo o faz como “retaliação”. É como o governo atirar no próprio cidadão como resposta ao tiro que o outro governo deu. Numa guerra, o primeiro objetivo é sempre dificultar o acesso do inimigo aos produtos estrangeiros. É lamentável quando o próprio governo faz isso em tempos de paz, em nome dos “interesses nacionais”.

Se Trump deseja recuperar empregos e fazer a América grande novamente, após oito anos de mediocridade do governo Obama, então ele deve reduzir os entraves ao livre mercado, enfrentar os sindicatos, diminuir os gastos públicos. Ou seja, deve seguir a cartilha liberal, não no sentido americano do termo, usurpado pela esquerda, mas no clássico.

Menos Estado, mais liberdade. Eis a receita. O protecionismo não faz parte dela. É o calcanhar de Aquiles de Trump, que tem tudo para resgatar a economia do pântano estatizante atual e colocar esta grande nação na rota do desenvolvimento novamente. Para isso, deve ler menos Keynes, e mais Milton Friedman e Hayek.

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E o que é melhor: dessa vez os liberais terão o apoio até da esquerda, que só para bater em Trump adotou um discurso em prol da globalização e maior abertura dos mercados. Finalmente!

Rodrigo Constantino, economista e jornalista, é presidente do Conselho do Instituto Liberal.