Na província paquistanesa do Punjab, muçulmanos contribuem com dinheiro, material de construção e arregaçam as mangas para ajudar a comunidade cristã local a erguer a sua igreja; em recente evento na Mesquita Imam Ali, em Curitiba, o padre cristão ortodoxo Semaan Nasri lembrou que, quando os muçulmanos chegaram a Raqqa, sua cidade natal, na Síria, há séculos, em respeito aos cristãos, construíram suas mesquitas fora dos muros da cidade, pois em seu centro havia igrejas – o Cristianismo chegou à região antes do Islã.
Estes são apenas dois dos milhares de exemplos, colhidos ao longo de uma história de 14 séculos, que demonstram o verdadeiro espírito do Islã: tolerante, pacífico, uma religião que estende a mão ao outro e procura entendê-lo. São, contudo, fatos que não encontramos diariamente na mídia – como jornalista, creio ser fundamental que os profissionais do ramo façam uma profunda reforma na escala de prioridades do noticiário, pois parece haver uma predileção em divulgar o que é mau, enquanto há tantos fatos positivos a publicar!
Criou-se um vínculo falso entre Islã e violência
Quando um celerado invade uma casa noturna e mata 50 pessoas, deve ser encarado dessa maneira: um criminoso, que deve responder, na forma da lei, pelo crime que cometeu. Ponto. Claro, no caso da recente chacina em Orlando isso não será possível porque o autor do massacre morreu. O problema é que, quando se descobre que o assassino é muçulmano, imediatamente a crença do autor é agregada ao título das manchetes. A consequência dessa prática, repetida inúmeras vezes, é a criação de um vínculo falso, mas tristemente indissociável – especialmente na cabeça de pessoas menos informadas – entre Islã e violência.
Infelizmente, é verdade, o chamado “Estado Islâmico” acabou virando abrigo ideológico de desajustados muçulmanos – sim, eles existem, como existem, também, em outras comunidades religiosas. E aí o desequilibrado, antes de cometer uma barbaridade, “jura fidelidade” a essa entidade etérea, cujos limites políticos e até mesmo religiosos não são muito bem definidos – pois constituem a antítese do ethos islâmico – e pronto: temos mais um fanático muçulmano a confirmar o suposto caráter violento dessa religião!
Na sequência, intelectuais e pseudointelectuais, levados pelo impacto das manchetes, investidos de certezas fundadas numa estreita percepção da realidade, rasteira e seletiva, sem compromisso sincero com o estudo e a pesquisa, apontam suas penas acusadoras contra o Islã: Intolerante! Fanático! Então temos 1,6 bilhão de seres humanos intolerantes e fanáticos no mundo, que se “submeteram” ao Islã porque, sadomasoquistas, acham bonito oprimir e chacinar seu próximo. A seguir esse raciocínio, o corolário é afirmar que quase um quarto da população mundial é constituída por assassinos em potencial!
O Islã não é isso. Ao longo da história e até os dias de hoje se constituiu em forte elemento civilizador, servindo, inclusive, de abrigo às minorias. Se há conflitos, é preciso entender as suas causas. Disseminar o preconceito não é a melhor forma de chegar a elas.
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