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Em economia poucos assuntos são tão fundamentais como a formação das expectativas e apesar da importância central deste tema na dinâmica da produção, muito pouco, ou quase nada, se sabe sobre como se forma e se desenvolve. As expectativas são importantes porque é este conjunto insondável que determina o volume do investimento geral, o verdadeiro motor da economia.

O tema tem várias dimensões. Um dos primeiros problemas é que cada um vê o mundo de um ponto de vista particular e não há racionalidade que dê conta de normalizar todas as opiniões numa abstração única como um agente representativo. Se todos fossem plenamente racionais e não houvesse assimetria de informações, o resultado do que esperar do futuro seria mais estável. Seria bom “sem dúvida”, mas o que não falta no futuro – por definição – é incerteza.

O desafio de Temer é conciliar o timing da economia e da política

O momento atual do Brasil está nessa intersecção de expectativas e algumas dinâmicas se alimentam mutuamente e torna mais difícil separar o joio do trigo, por assim dizer. Exemplo disso podemos ver no início do ano. A bolsa de valores subiu fortemente, o dólar derreteu e os juros longos despencaram. Tudo isso por conta do possível impeachment de Dilma. Será?

Acho essa hipótese frágil, e me explico. A bolsa brasileira subiu na esteira do aumento da liquidez em escala global traduzido pela queda dos juros nos EUA, Europa e Japão. Este excesso de dinheiro vazou para o Brasil e para praticamente todos os emergentes o que fez a bolsa subir e o dólar cair no mesmo movimento. Como aqui estávamos na expectativa do impeachment colamos uma coisa na outra sem nos perguntar muito.

Agora acontece o inverso. Desde que Temer assumiu a bolsa caiu e o dólar subiu. Isso quer dizer que o mercado não gosta de Temer? De forma alguma. O que vemos hoje é uma reversão da expectativa dos juros nos EUA e é provável que o Fed suba os juros este ano por lá. Quando os juros subirem nos EUA os capitais voltam para baixo da asa do Tesouro norte-americano e assim o dólar sobe no telhado.

Temer tem um problema adicional. Nós economistas sabemos que a recuperação vai ser lenta. Mesmo que a expectativa com o país melhore sabemos que há muita ociosidade na indústria por exemplo então isso quer dizer que antes de investir o empresário terá que ligar essas máquinas. Mesmo concessões são uma coisa que demora, entre decidir fazer e colocar o primeiro tijolo no chão talvez haja uma janela de seis a 12 meses.

Se o tempo da economia será lento, o mesmo não pode se dizer do tempo da política. Este está voando! Se criou tal expectativa – e as ilusões e distorções da realidade reforçaram essa leitura – que o problema era simplesmente a Dilma e o PT que se espera uma solução rápida de Temer. Não por menos, com um exército de mais de dezena de milhão de desempregados uma crise econômica e política pode escalar facilmente para uma crise social num país que tem uma eleição em outubro e no meio do caminho uma Olimpíada.

O desafio de Temer é conciliar estes dois tempos (da economia e da política) e mesmo todas as boas intensões não são imunes ao inferno. Se ele não agir com sabedoria de ao mesmo tempo sinalizar um ajuste fiscal de longo prazo, mas não tão forte que destrua ainda mais a economia no curto prazo, podemos esperar mais tensão.

A boa notícia é que desta vez o Banco Central vai poder ajudar nessa travessia cortando os juros de maneira mais decidida uma vez que o PIB está amplamente abaixo do potencial (ou seja pode crescer sem gerar inflação).

Vamos ver qual vai ser o ponto dessa massa, afinal cozinhar e fazer política estão menos para ciência e mais para arte. E não basta ser bom: tem que ter sorte.

André Perfeito é economista-chefe da Gradual Investimentos.
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