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As profundas crises econômica e política que o país enfrenta não apresentam nenhuma perspectiva de melhora em 2016. Apesar do cenário crítico, o que mais salta aos olhos é que os governistas não são os únicos que nada aprenderam sobre o que acontece quando o Estado se intromete nos setores em que não deveria fazê-lo. Por mais incrível que pareça, ainda soa natural em nossa sociedade que determinados interesses ou bens privados sejam custeados, em vasta quantidade, por dinheiro público; e o carnaval é um exemplo característico disso.

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Centenas de milhões de reais são empenhados todos os anos para custear essa festa tipicamente brasileira, sendo grande parte desses recursos advindos dos nossos impostos. Vale lembrar que o Estado não gera riquezas, mas apenas extrai os recursos, compulsoriamente, de quem produz e sob pretexto de que serão devolvidos em formato de serviços públicos “gratuitos” para a população. Se a grosso modo parece aceitável tal extração, não soa tão simples encaixar essa bela festa de nossa cultura, que é o carnaval, como algum serviço essencial, por maior que seja o esforço retórico.

Mas qual o sentido em obrigar aqueles que não ganham nada com isso a arcar com o custeio da festa – e com lucros de terceiros?

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Um patrimônio público nacional

Não basta apenas alardear que os eventos de carnaval no Brasil geram cerca de 500 mil empregos fixos e temporários, movimentam R$ 20 bilhões e geram um fluxo de quase 7 milhões de turistas nacionais e estrangeiros.

Leia o artigo de Dario Luiz Dias Paixão, professor da Universidade Positivo e da UFPR

Se não é prioritário, parece ainda mais complicado justificar que municípios, que em período de alto crescimento econômico mal dão conta de suas responsabilidades primárias, repassem verba pública para a realização de uma festa. Levando-se em conta as dívidas dos governos estaduais e municipais na atual realidade de profunda crise, então, parece inevitável que algum setor tenha de abrir mão de recursos para sustentar os repasses de dinheiro público para o carnaval. Há municípios que vão além na hora de ignorar a realidade: o Rio de Janeiro dobrará o repasse de dinheiro público para a festa da cidade, a fim de cobrir a míngua de recursos privados causada pela crise.

Alegar que o carnaval é rentável até pode ser verdadeiro. Mas é uma afirmação que, por si só, desconstrói argumentos em defesa da aplicação de dinheiro público para os desfiles. Ora, se é algo lucrativo, para que, então, é necessário que se utilize recursos do contribuinte?

Ademais, é lucrativo para quem? Para muitos, o carnaval é mais que uma festa em que milhões curtem e se divertem; é um negócio, cujo empenho para o desfile do ano seguinte começa no término do desfile do ano atual. É legítimo que eles tenham ganhos, como em quaisquer outros setores. Mas qual o sentido em obrigar aqueles que não ganham nada com isso a arcar com o custeio da festa – e com lucros de terceiros? E os que não gostam do estilo da música e nem participam do carnaval: qual o sentido em fazê-los pagar por isso, sendo que poderiam empenhar seus recursos no que lhes é do próprio interesse?

A cultura pode ser considerada uma vasta riqueza, mas é intangível e subjetiva. Se a alegação de interesse social ou cultural for suficiente para o provisionamento de vastos recursos públicos para algo que não é essencial, penaliza-se justamente os que mais dependem dos recursos públicos e menos podem se proteger da inflação: os de baixa renda, os mesmos que sofrem com altos impostos em tudo que precisam consumir. Simples e objetivo: o que é privado deve ser custeado apenas e tão somente pelos mesmos que lucram ou têm interesse em sua realização; os demais devem poder escolher onde empenham os próprios recursos.

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Wagner Vargas é sócio-diretor da Chicago Boys Investimentos e especialista do Instituto Liberal.