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No Brasil e na América Latina, os efeitos da crise internacional se tornaram mais evidentes a partir de 2012. Considerando o desempenho brasileiro e latino-americano nos períodos 2004-2011 e 2012-2015, nota-se uma desaceleração expressiva nas duas regiões, mas muito mais acentuada no Brasil: de 4,39% para 0,84% e de 3,95% para 2,52%, respectivamente, de acordo com o Banco Mundial. A comparação com o restante da América Latina é relevante e faz sentido pela similaridade em vários aspectos.

Os dados indicam que a retração do crescimento da economia brasileira foi 55,4% maior em relação ao restante do continente, mesmo com os vários erros na política econômica em países importantes, como Argentina, Venezuela e Bolívia. Portanto, mais da metade da desaceleração da economia brasileira nos últimos quatro anos é decorrente de problemas internos, sobretudo da escolha de políticas econômicas que ficaram conhecidas como a “Nova Matriz Econômica”.

O fechamento da economia prejudicou ainda mais a evolução da produtividade

Esse conjunto de políticas econômicas foi composto por uma crença de que o país poderia manter um bom desempenho com estímulos à demanda via redução de impostos em setores específicos, elevação das operações de crédito e redução da taxa de juros. Adicionalmente, acreditava-se que a criação de grandes grupos empresariais de capital nacional seria elemento fundamental nessa estratégia de crescimento. A base dessa política foi a concessão de grandes somas de crédito subsidiado através do BNDES, estímulo à concorrência via desonerações trabalhistas e controle dos preços de energia, além do fechamento da economia com a insistência na criação de uma indústria nacional autossuficiente.

As medidas de estímulo à demanda ocorreram por um erro de diagnóstico, visto que o grande obstáculo à aceleração do crescimento estava do lado da oferta, na estagnação da produtividade. Essas medidas, aliadas a um cenário de reduzido desemprego, tiveram efeitos, sobretudo, na aceleração inflacionária e piora no déficit em transações correntes. A desaceleração do crescimento, frustrando as expectativas de receitas do governo, as desonerações fiscais e trabalhistas, os créditos subsidiados, além dos custos associados à política de controle cambial, pioraram a situação fiscal, dando margem ao uso da contabilidade criativa, gerando ainda mais incerteza.

As intervenções no setor elétrico para estimular a produtividade e segurar a inflação levaram a uma deterioração nas contas do setor, além de desestimular novos investimentos. O fechamento da economia prejudicou ainda mais a evolução da produtividade. Por fim, a elevação da inflação levou a medidas de controle de preços que também provocaram maiores níveis de incerteza, além de fragilizar o setor sucroenergético, que já enfrentava dificuldades decorrentes do cenário internacional. Os resultados de tais medidas de política econômica foram a rápida deterioração dos fundamentos econômicos e a geração de um ambiente de crescente incerteza.

Até hoje não se sabe quem é o pai da “Nova Matriz Econômica”. No entanto, os verdadeiros pais, que não querem assumir a sua paternidade, tentam ressuscitá-la com a justificativa de que a grande bagunça foi feita pelo filho do vizinho que apareceu somente após a festa terminar.

Luciano Nakabashi, doutor em Economia, é professor da FEA-RP/USP e pesquisador do Ceper/Fundace e do CNPq.
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