| Foto: The Presidential Press and Information Office

Li as 226 páginas do relatório Tendências Globais: Paradoxos do Progresso, divulgado na semana passada pelo National Intelligence Council, órgão de inteligência do governo americano. Aquilo que o documento apresenta como tendências para os próximos anos, como o aumento do risco de conflitos internacionais, terrorismo e baixo crescimento econômico, revela algo fundamental que não está sendo discutido: o fracasso do atual modelo político e da forma de fazer política dos líderes de hoje.

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Um dos aspectos mais interessantes do relatório sobre os riscos de novos conflitos mundiais é que, ao contrário do que andamos lendo por aí, foi a atuação política dos “moderados” e de “grandes líderes” como Barack Obama e Angela Merkel que pavimentou o caminho para o atual estado de coisas.

O termo “populismo” virou expressão-coringa para designar tudo o que os esquerdistas rejeitam

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Ironia suprema: Donald Trump é acusado de representar um grande perigo para a sociedade internacional, mas foi o “impoluto” Barack Obama um dos responsáveis diretos por tornar o mundo mais inseguro, menos cooperativo e menos desenvolvido economicamente. E não só ele. Coloquemos na lista Vladimir Putin e outros – além de instituições como a ONU. Ou seja, o quadro de horror que é pintado para o futuro próximo a partir da atuação do novo presidente dos Estados Unidos teve a colaboração decisiva de Obama, que deixará a presidência como o grande líder que jamais foi.

No âmbito da segurança, embora tenha assassinado Osama bin Laden, o governo Obama não só não conseguiu neutralizar grupos terroristas como a Al Qaeda como permitiu, por omissão, a fundação de outros, como o Estado Islâmico, ao legitimar a derrubada das ditaduras na Líbia, no Egito e na Síria a partir de erros crassos de avaliação (a ex-secretária Hillary Clinton exerceu papel fundamental na história). Isso abriu espaço para a Rússia retomar a sua influência na região (incluindo a Arábia Saudita), importância que havia perdido após a Guerra do Yom Kippur, em 1973.

Foi exatamente a intervenção militar russa na Síria que modificou o equilíbrio de poder internacional no país e no Oriente Médio, segundo o professor Ely Karmon, do International Institute for Counter-Terrorism, com sede em Israel. A atuação do governo russo, disse Karmon, pode ser entendida como uma tentativa de assegurar a influência do país baseada na esperança de se tornar, mais uma vez, uma superpotência mundial. Embora seja tão responsável quanto Obama pela situação atual, Putin foi mais esperto que o presidente americano ao usar em seu favor a instabilidade internacional que ajudou a criar.

O relatório do National Intelligence Council sugeriu ainda que a democracia liberal está sob ameaça no Ocidente por causa do populismo. Mas não explicou adequadamente como foi possível essa transição da situação anterior para a de agora sem a culpa dos políticos que estão no poder. O populismo é, portanto, culpado por aquilo que ainda não fez e o termo, que tem um significado político específico, passou a ser utilizado como expressão-coringa para designar tudo o que os esquerdistas rejeitam.

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Eis o óbvio: o documento é o atestado público de que a forma de fazer política está errada. E que políticos que são vistos como moderados – a exemplo de Obama – são, na verdade, líderes débeis que deixaram a situação fugir ao controle. Os riscos de novos e mais intensos conflitos mundo afora só estão em discussão por responsabilidade direta deles, que, embora continuem incensados pela grande imprensa, não são mais reconhecidos como tais por parcelas cada vez mais numerosas das respectivas sociedades que representam.

O risco imediato para o futuro do mundo não é a desgraça do populismo: é o casamento incestuoso entre a degradação da política de hoje com a sua descendente, a política degradada de amanhã.