A história envolvendo o repórter americano Chadwick Moore é mais uma de uma extensa lista da histeria universal da infâmia esquerdista. Moore, que se encaixava no estereótipo jornalista, gay e esquerdista de Nova York, acordou para a bolha ideológica dentro da qual vivia de maneira traumática: virou um pária social entre amigos e conhecidos de esquerda após a publicação, na revista Out, de um perfil que escreveu sobre o jornalista britânico Milo Yiannopoulos. E nem era um texto elogioso.
O tiro, porém, saiu pela culatra da esquerda. Ao se ver na posição de vítima das reações mais estúpidas e moralmente violentas por parte de pessoas com quem convivia, Moore enfrentou à força a experiência da desilusão política. Descobriu, espantado, do que eram capazes os crentes políticos.
Mas quem é, afinal, Milo Yiannopoulos? E por qual razão ele tem despertado tanta fúria nos Estados Unidos? (Para começar, um exercício de cabotinismo: fui o primeiro a escrever um perfil sobre ele na grande imprensa brasileira, no meu blog no site do jornal EXTRA).
Moore enfrentou à força a experiência da desilusão política e descobriu do que eram capazes os crentes políticos
Autodeclarado gay, católico e conservador, Milo é editor-associado do site Breitbart, que era chefiado até o ano passado por Stephen Bannon, ex-chefe de campanha e atual estrategista-chefe do presidente Donald Trump. O site foi fundado pelo escritor e editor conservador Andrew Breitbart, falecido em 2012 e um dos mais contundentes e inteligentes debatedores da direita americana.
E Milo? Conhecido na Grã-Bretanha pelos artigos que escreveu sobre o caso Gamergate e pelas participações em programas de debates da tevê inglesa, despontou internacionalmente em 2016. Três episódios explicam a sua ascensão e a fúria que vem despertando.
O primeiro episódio foi usar o Twitter como uma poderosa arma contra a agenda politicamente correta que infesta o mundo ocidental. Suas posições atraíram milhares de seguidores e o mesmo tanto de detratores. Em virtude de uma discussão com a atriz Leslie Jones – mais propriamente, pelas ofensas dirigidas à atriz por seguidores de Milo –, ele foi banido permanentemente do Twitter pela direção da empresa.
O segundo episódio foi a ousadia de percorrer universidades americanas para proferir palestras contra o feminismo. Ele batizou jocosamente a sua jornada pelo mundo acadêmico de “Turnê da Bicha Perigosa” (procure no Youtube). A turnê continua – e continua fazendo barulho. No início de fevereiro, uma palestra na Universidade da Califórnia (Berkeley) teve de ser cancelada porque a extrema-esquerda americana promoveu um protesto violento, com direito a incêndio, que provocou prejuízos de US$ 100 mil. Milo prometeu lá voltar.
Mas foi na campanha à presidência de Trump, e cá está o terceiro episódio que explica a sua ascensão, que Milo atraiu de vez os holofotes – e os aproveitou de forma inteligente e eficiente. Já convertido em “celebridade da extrema-direita” pela grande imprensa americana (e, mais recentemente, pela brasileira), Milo foi peça importante na vitoriosa campanha. Além de conceder centenas de entrevistas para defender o candidato, foi um dos palestrantes famosos do evento Wake Up!, organizado pelo grupo “Gays for Trump” no ano passado, durante a convenção do Partido Republicano.
Assim como Milo, Chadwick Moore é gay e vem experimentando o que é ser vítima da polícia esquerdista do pensamento e de sua violência. A ilusão e a desilusão política vividas por Moore confirmam a tese do professor Paul Hollander em dois de seus livros: Political Pilgrims e O fim do compromisso. No primeiro, ele explica como o indivíduo estabelece o vínculo com a ideologia; no segundo, como se dá o rompimento.
A história de Moore é ainda mais interessante pelos frutos gerados pela ruptura ideológica. Ele conseguiu conversar de uma maneira como nunca havia feito antes com o próprio pai, homem do interior, republicano que votou em Trump. E, graças à desilusão, permitiu-se fazer um autoexame ideológico e, por fim, declarar que está se tornando um conservador.