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Bruno Garschagen

O PT não está morto. E será ainda mais perigoso

É ilusão achar que o impeachment de Dilma Rousseff representa o fim do PT. Longe disso. O PT, hoje ferido e enfraquecido, certamente se reorganizará internamente e buscará refazer publicamente a sua imagem. Poderá, inclusive, assumir uma nova face para preservar os velhos vícios. Nada novo. Os socialistas e comunistas fizeram o mesmo em outros países para sobreviver aos novos tempos e se desvincular do capital de horror que acumularam no século 20.

Também é parte dessa estratégia de refundação do PT, à maneira soviética, sacrificar alguns de seus membros que colocaram em causa a atuação e a existência do partido. Nesse sentido, a defesa no Senado da presidente afastada é o último ato de encenação até que o PT assuma o papel de Khrushchov e transforme Dilma em Stalin.

A história é conhecida: no dia 25 de fevereiro de 1956, o líder soviético Nikita Khrushchov apresentou no XX Congresso do Partido Comunista da União Soviética o discurso Sobre o culto à personalidade e suas consequências, no qual revelava os crimes brutais de Stalin (enfatizando aqueles cometidos contra membros do Partido Comunista). A intervenção teve dois objetivos: enfraquecer os stalinistas que controlavam o PC e salvar o partido ao desvinculá-lo das infâmias perpetradas por Stalin.

O pálido reconhecimento dos equívocos é atenuado pelas críticas ao “movimento golpista”, às “forças conservadoras”, aos “capitalistas”, à “direita”.

O PT parece adotar estratégia similar. Primeiro, ao vazar informações para jornalistas segundo as quais o partido já dava o impeachment como certo. Rifar Dilma, aliás, é a parte mais cômoda do processo, considerando que ela só entrou para o partido para ser a candidata imposta por Lula. Depois, ao divulgar em maio a Resolução sobre conjuntura (http://www.pt.org.br/wp-content/uploads/2016/05/Resolues-sobre-conjuntura-Maio-2016.pdf) na qual reconhecia os “equívocos e dificuldades em dar continuidade ao processo de mudanças iniciado em 2003” pelo governo Dilma cujo processo de afastamento exigia uma autocrítica.

A resolução do PT é um documento valioso para compreender a mentalidade que sustenta a sua ideologia. O documento pode ser comparado ao relatório Khrushchov pela forma como lida com o problema: chama de erros aquilo que, na verdade, é parte estrutural da ação comunista e atribui responsabilidades a certos personagens e não aos meios e fins do projeto ideológico de poder.

Na estratégia de transferir culpabilidades, o PT afirma que as consequências negativas da política econômica do governo Dilma não foram o resultado do modelo desenvolvimentista, que já havia fracassado durante o regime militar, mas da crise internacional e de reformas não realizadas que impediriam as “transferências financeiras para os grupos privados” e ajudariam a “recompor o equilíbrio fiscal com a tributação dos mais ricos”, além de desmontar o “oligopólio dos bancos”. Em suma, tudo aquilo que estruturou e sustentou a política dos governos Dilma e Lula.

E mesmo o pálido reconhecimento dos equívocos é atenuado pelas críticas ao “movimento golpista”, às “forças conservadoras”, aos “capitalistas”, à “direita”. “O fato é que não nos preparamos para o enfrentamento atual, ao priorizarmos o pacto pluriclassista que permitiu a vitória do ex-presidente Lula em 2002 e a consolidação de seu governo nos anos seguintes”, diz a resolução (http://www.pt.org.br/wp-content/uploads/2016/05/Resolu----es-sobre-conjuntura-Maio-2016.pdf). Essa aliança foi firmada com as forças políticas, incluindo o PMDB, que o PT agora critica. Michel Temer só é presidente interino em virtude desse pacto. E deverá assumir definitivamente a Presidência porque foi eleito junto com Dilma e com o endosso do PT.

Volto a repetir: o PT não está morto. Pelo contrário. O partido está pronto para iniciar a nova batalha já ciente do que deve e do que não deve fazer. Esse trecho da resolução é revelador: “a hegemonia dos trabalhadores no Estado e na sociedade não depende exclusiva ou principalmente de administrações bem-sucedidas, mas da concentração de todos os fatores na construção de uma força política, social e cultural capaz de dirigir e transformar o país”. Ou seja, quando reconquistá-lo, concentrar ainda mais o poder.

Anotem aí: o novo PT será ainda mais perigoso do que o velho PT.

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