“Quando a sharia fosse instituída, talvez em 10 ou 15 anos, ela (a rainha) e todas as mulheres na Grã-Bretanha andariam cobertas dos pés à cabeça, mostrando somente o rosto e as mãos.” “Todas as mulheres teriam de se cobrir de forma apropriada e usar niqab ou véu. Dessa forma, não haveria prostituição.” “Por volta de 2050, a Grã-Bretanha será um país de maioria muçulmana. Será o fim da liberdade da democracia e da submissão a Deus [cristão].” “Não acreditamos na democracia, e tão logo tenham autoridade, os muçulmanos devem instituir a sharia. É o que estamos tentando ensinar às pessoas.”
O autor das aberrações é o muçulmano britânico Anjem Choudary. Na semana passsada, Choudary foi condenado pela Justiça inglesa a cinco anos e meio de prisão. Mas não por declarações ultrajantes como essas, e sim por celebrar e pedir apoio ao grupo terrorista Estado Islâmico. Ele foi sentenciado junto com Mohammed Mizanur Rahman, outro líder do extinto grupo radical al-Muhajiroun (ALM). Ambos já estão cumprindo a pena.
Deixar solto e impune alguém tão perigoso não me parece a melhor ideia
Choudary é figura conhecida na Inglaterra. Cidadão britânico nascido em Wellin (Londres), vivia há 20 anos sem trabalhar graças aos benefícios pagos pelo governo. Nesse período, recebeu cerca de 500 mil libras sem fazer absolutamente nada de produtivo. Mas usufruiu do privilégio nessas duas décadas para seduzir e influenciar muçulmanos com discursos e em entrevistas para a imprensa inglesa e americana em defesa da islamização do mundo (a começar pela Grã-Bretanha), da aplicação da sharia no país e da submissão das mulheres.
Até ser descoberto e julgado, Choudary elaborava estrategicamente seus discursos para não transgredir a lei. Foi traído, porém, por vídeos publicados no YouTube, que serviram de provas suficientes para condená-lo.
Prender Choudary, porém, é o mais adequado a ser feito?
O colunista da revista Spectator Rod Liddle afirmou que não. Seu argumento faz sentido: era preferível devolver o passaporte e permitir que ele fosse para a Síria juntar-se aos seus camaradas do EI, como disse ser a sua intenção durante o julgamento. Liddle ainda sugeriu que Choudary levasse consigo todos os muçulmanos britânicos que o apoiam. E se disse perplexo com o governo inglês que, ao encarcerá-lo, impede a sua partida.
Entendo o ponto esboçado por Liddle, mas deixar solto e impune alguém tão perigoso não me parece a melhor ideia. Mas também vejo com simpatia o cancelamento dos passaportes e da cidadania de Choudary e de todos os seus apoiadores. Também sou favorável à perda da cidadania e à deportação de todos os cidadãos e imigrantes que usam a liberdade no país para defender a jihad ou que se tornam agentes do terrorismo muçulmano.
Longe de ser um problema isolado, o exemplo de Choudary, de seus seguidores e do britânico “jihadista John” é a face visível de um drama profundo e de difícil solução. A Inglaterra, que em 2005 foi alvo de um grave atentado terrorista perpetrado por muçulmanos britânicos, tem sofrido cada dia mais com os radicais que atuam dentro de seu território. Com a complacência de políticos, autoridades, intelectuais, imprensa, como mostrou a jornalista Melanie Phillips em seu livro Londonistan, há regiões da grande Londres, como Luton, que foram quase completamente dominadas por essa gente. Quem reage publicamente contra o estado de coisas é alvo de ataques e de ofensas. E acusado de xenófobo e intolerante religioso.
Não é só o “Brexit” que vai tirar o sono da primeira-ministra Theresa May. Os muçulmanos radicais e os terroristas são, provavelmente, um dos maiores desafios do seu governo – assim como a parcela da sociedade inglesa que os legitima e apoia.
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