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Ontem o Tribunal de Contas do Estado do Paraná divulgou um relatório que aponta que os gastos da Copa do Mundo em Curitiba foram 600% maiores do que o planejado. Repete-se a matemática: perdemos de 7 a 1, o saldo é de seis gols sofridos.

Seis vezes mais caro do que havia sido prometido.

Me recordo das atividades do Comitê Popular da Copa, uma iniciativa que ocorreu em nível nacional, nas cidades-sede da Copa do Mundo, antes e durante o evento, e que reunia representantes das comunidades, de movimentos sociais e quem mais quisesse discutir os impactos do grande evento no país.

Os fatos ilícitos só são percebidos agora, após a realização do evento

Com exceção das críticas feitas nesses espaços, pode-se dizer que havia um enorme consenso a favor do grande evento na sociedade brasileira. A realização da Copa do Mundo empolgava e mobilizava opiniões favoráveis, a despeito dos resultados pífios, também chamados de “legado”.

A sociedade se comoveu com a devoção internacional de nos permitir sediar um evento de tão grande repercussão. De fato, há méritos em ser escolhido como sede de um evento dessa natureza, mas são necessários esforço e dedicação para transformar este mérito em realizações para o futuro do país. A rigor, trata-se de um evento comercial com lucros fantásticos para os realizadores, e é justo que parte desses ganhos fiquem por aqui.

E já na época denunciamos o engodo de muitos dos investimentos anunciados. Orçamentos falsos, falta de planejamento e aproveitamento de dinheiro público para o interesse estritamente privado não eram novidade. Lembro-me de uma reunião que fizemos no Tribunal de Contas do Estado do Paraná e fomos alertados de que o órgão agiria apenas depois da constatação dos fatos.

Ou seja, não haveria atuação preventiva ou medidas cautelares para a proteção do dinheiro público. De fato, não houve. Os fatos ilícitos só são percebidos agora, após a realização do evento. E depois de quase dois anos da conclusão do evento, um relatório nos mostra a conta da falta de planejamento.

Os gastos foram seis vezes maiores do que o planejado. Fica a pergunta: houve algum planejamento? Situações extraordinárias poderiam justificar tamanha diferença no dimensionamento dos gastos entre o planejado e o executado. Nessa proporção, algo como um furacão, um tsunami ou o estouro de uma barragem de rejeitos de minério, talvez justificassem gastos muito maiores do que os planejados.

Mas a verdade é que houve relativa normalidade na realização do evento. Os gastos extraordinários se deram a partir daquela ideia de que onde passa um milhão, passam dois. Os executores das obras e os gestores valeram-se da aprovação, enfim, do evento e da autorização das obras e fizeram seus acréscimos.

A surpresa é que para as situações extraordinárias, como a do recente desastre ambiental no Rio Doce, não haja gastos maiores do que o planejado. É tudo contido, controlado.

Será que o espetáculo valeu a pena? Afinal, o Brasil saiu com saldo negativo da competição, dentro e fora de campo.

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