Com a proximidade do mês de fevereiro, começam as discussões a respeito da tarifa do transporte coletivo. Já se fala em tarifas superiores a R$ 4, e mais uma vez a sociedade é refém de informações que não domina, apresentadas com artifícios técnicos pelas empresas e pela prefeitura.
Da parte das empresas, alega-se que a operação atual está dando prejuízo, o que as obrigaria, por exemplo, a deixar de comprar ônibus novos, contrariando o contrato firmado com o município. As empresas, aliás, teriam vencido uma demanda judicial que garantiria o boicote na modernização da frota.
Da parte da prefeitura, falta um posicionamento mais firme contra as chantagens das empresas. Normalmente, somos informados pela Urbs sobre o resultado do cálculo rebuscado da tarifa técnica, e o valor que os passageiros terão de pagar para custeá-la.
A sociedade é vítima de manipulações em todas as concessões, controladas por agências que se distanciam das demandas populares
Dentro de toda essa mitologia, o tema do subsídio aparece como outro personagem misterioso; a sociedade, sem acesso à informação, divide-se entre defender a importância do subsídio como forma de reduzir a passagem ou ser contra o subsídio para estancar os gastos públicos.
Mas o negócio do transporte fica intocável. O benefício de operar um sistema público do qual todos os cidadãos são usuários e que não admite a concorrência, afinal, é só um detalhe.
Esse problema não é exclusivo do transporte coletivo urbano. A sociedade é vítima de manipulações dessa natureza em todas as concessões, controladas por agências reguladoras que se distanciam das demandas populares.
Certamente ainda existem mecanismos de controle, como a atuação dos usuários, com reclamações aos órgãos públicos a respeito de problemas e irregularidades das concessionárias. Mas somos distanciados do cerne do problema: os grandes negócios que mobilizam esse tipo de serviço.
Para isso, a sociedade precisa de acesso à informação e, mais do que isso, à interpretação da informação oferecida. Afinal, hoje todos os órgãos públicos já são obrigados a divulgar seus orçamentos, mas vai entender o que significam aqueles números. Com o negócio do transporte coletivo é igual.
Depois de auditorias e de inúmeras informações já divulgadas, e até mesmo de posicionamentos claros de órgãos públicos a respeito de irregularidades na tarifa do transporte coletivo, ainda somos obrigados a assistir ao triste debate permeado por adornos técnicos – que dificultam a contestação popular – sobre o tamanho da facada que será a passagem de ônibus para esse ano.