| Foto: Beto Barata/Presidência da República

Desde que Michel Temer assumiu a Presidência, a sociedade se divide entre aqueles que desprezam a conduta ardilosa do vice-presidente que alimentou a queda da titular para poder assumir seu lugar, e aqueles que têm alguma esperança de que o governo Temer possa encontrar um caminho de saída da crise.

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Entretanto, os resultados do PIB de 2016 chegam para dissipar as esperanças de que Temer estivesse realmente buscando meios para enfrentar a crise. Sob Dilma, embora houvesse quedas no PIB, os tombos, vejam só, estavam diminuindo, e chegaram a 0,3% no segundo trimestre de 2016. Mas, desde que Temer assumiu a direção, a economia parece mais distante dos patamares positivos: no terceiro e quarto trimestres de 2016, as quedas foram cada vez mais fortes, chegando a 0,7% e 0,9%, respectivamente.

Todo o discurso da austeridade, ao estilo Henrique Meirelles, parece não estar sendo suficiente para enfrentar o problema, e a primeira constatação que somos obrigados a fazer é de que a austeridade proposta pelo governo é seletiva. Enquanto propõe perda de direitos para a maioria da população, inviabilizando a aposentadoria e precarizando as condições de trabalho, mantém os privilégios e as relações promíscuas na cúpula.

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Há uma aliança da austeridade com o fisiologismo, sem compromisso algum com a recuperação econômica

Até o momento, o governo não demonstrou nenhuma disposição de realmente reduzir os custos públicos, e mantém o grande número de comissionados e o inchaço nos altos cargos da máquina pública. Diz-se que há uma disputa entre Henrique Meirelles e os ditos “setores fisiológicos” do governo, mas a verdade é que as duas partes não divergem. Há uma aliança da austeridade com o fisiologismo, e esse pacto não tem compromisso algum com a recuperação econômica.

As poucas medidas favoráveis, como a redução constante dos juros e algum incentivo ao financiamento imobiliário, ainda são tão tímidas e menos relevantes que as medidas que continuam a afundar a economia que nem parecem interferir na queda do PIB.

As iniciativas que poderiam dar algum fôlego à economia exigem investimentos em infraestrutura e em atividades industriais. Nesse campo, o governo apenas disfarça, lança programas de concessões e licitações, mas a ausência de projetos e de interesse do próprio governo faz esses projetos estagnarem. Assim, resta ao país depender do setor primário – agricultura e extrativismo – e ver a economia ficar cada vez mais vulnerável.

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Some-se a essa realidade a posição cambaleante do próprio Temer. Sempre na iminência de cair, Temer é ameaçado por pedidos de impeachment e, principalmente, por um processo prestes a ser julgado na Justiça Eleitoral, que pode cassar a chapa Dilma-Temer, o que derrubaria o atual presidente e exigiria um processo excepcional de eleições indiretas para um mandato tampão até 2018.

Considerando que a democracia pressupõe a finitude, de modo que os mandatos têm período máximo e limites para a reeleição, não é possível compreender que um processo judicial que trate da permanência ou não do presidente da República possa levar tanto tempo. O Tribunal Superior Eleitoral está prestes a julgar a cassação da chapa no último ano de mandato.

Essa realidade de incerteza política também contribui para a permanência da crise, seja pela insegurança jurídica dos investimentos, seja porque aqueles que permanecem no poder de forma tão provisória apenas aproveitam-se da oportunidade para saquear ainda mais os escassos recursos.