Fatos novos são coisa raríssima em nossa política. Em geral, quando aparecem, é como farsa. E é assim que vem sendo tratada a pré-candidatura de Jair Bolsonaro à Presidência da República.

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No caso, contudo, o feitiço pode sair contra o feiticeiro. Um jornalista publicou um texto em que tratava como "gracinha" do deputado a pré-candidatura; teve sua página de internet inundada por mais de 10 mil comentários, praticamente todos favoráveis à candidatura. É uma consequência do expurgo que a esquerda conseguiu fazer de qualquer pensamento conservador no panorama político nacional, em que os candidatos parecem mais dedicados a conquistar os votos da pequeníssima parcela esquerdista da classe média alta que a realmente representar a maioria do povo.

O deputado Bolsonaro é uma figura caricata, e exatamente por isso teve sua sobrevida política permitida; para a esquerda, ele representava a "reação" ridícula, exagerada e preconceituosa que jamais poderia ser levada a sério. Na ausência de outros pontos de vista conservadores – se é que os dele podem ser assim chamados – no panorama político, contudo, ele conseguiu arrebanhar imenso fã-clube, que o vê como um "exército de um homem só", enfrentando bravamente tudo o que a população brasileira majoritariamente repudia.

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Seu partido – ironicamente dito "progressista" – já declarou que só cogita a candidatura se ele atingir 10% das intenções de voto em pesquisa eleitoral. Ora, se lhe for dado algum tempo de televisão, corre-se o risco de uma repetição aumentada do fenômeno Enéas, pelas mesmíssimas razões: é alguém que, ainda que desordenadamente, repudia o que a população não quer e acolhe o que ela quer.

Ironicamente, quem tem mais a temer com a candidatura do deputado é a presidente, de quem ele tiraria muitos votos. Os que votam no PT por razões ideológicas sempre foram uma minoria, e hoje essa minoria está ainda mais minguada após os sucessivos escândalos com que o partido nos brindou em sua passagem pelo poder. A imensa maior parte dos votantes do PT, aqueles que poderiam levar Dilma a um segundo turno e quiçá a um segundo mandato, é composta de eleitores que preferem, por conservadorismo, evitar mudanças bruscas na condução do país e desconhecem os outros candidatos.

Ora, a esses Bolsonaro apela com um discurso familiar, com quereres e rejeições exatamente iguais aos que são feitos por eles em casa, no bar, no trabalho. Não seria inesperado se, lançada sua candidatura, tivéssemos um segundo turno entre ele e um candidato da oposição consentida.

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