Sempre tenho o cuidado de procurar conviver com gente que pense diferente de mim. Quanto mais diferente, melhor: só assim eu posso descobrir as falhas e pontos cegos da minha visão de mundo. Alguns dos melhores e mais queridos amigos do conservador católico que batuca estas mal traçadas linhas são ateus de extrema esquerda; outros são protestantes, umbandistas, anarquistas, fascistas, e por aí vai.
Tudo o que seja incompatível com algum ditame do politicamente correto não é mais simplesmente errado: é um crime
Esta convivência está ficando menos proveitosa, contudo, devido ao fenômeno preocupante do avanço do politicamente correto, com forte e caro apoio estatal (Humaniza Redes e outros projetos de censura), que fez com que os amigos esquerdistas passassem a manifestar ódio extremo ao diferente. Antes eles simplesmente discordavam, geralmente apelando para alguns dos dogmas irracionais da esquerda: tal coisa seria ruim por ser “desigual”, tal outra por supostamente favorecer alguém que eles viam como “opressor”, essas coisas. Agora não é mais assim.
De um tempo para cá, tudo o que seja incompatível com algum ditame do politicamente correto não é mais simplesmente errado: é um crime ou, pelo menos, um ato de “ódio”. A resposta adequada, evidentemente, é um ódio maior ainda. O resultado é um tremendo empobrecimento do discurso político brasileiro, sem falar na negação liminar de qualquer debate ou discussão política. Não se pode discutir ou debater com quem nos nega o direito de falar, pensar ou existir, derramando ódio contra o que eles mesmos, unilateralmente, inventam justamente ser ódio.
Este fenômeno já ocorria de forma mais inconsistente, como quando Nelson Rodrigues apresentou o grande Corção a um esquerdista que antes do encontro o imaginava composto de puro ódio e surpreendeu-se ao percebê-lo feito de puro amor.
Agora, todavia, a coisa ficou mais preta para o lado dos pobres esquerdistas, que deram o passo seguinte e passaram a querer censurar tudo aquilo que odeiam, por odiento. Querem calar todas as bocas que se lhes oponham e garantir um silêncio tumular no lugar de uma viva troca de ideias. A única reação que a discordância parece ser capaz de provocar, agora, é o ódio imediato, o choque, a recusa. Metaforicamente, põem-se a tremer com as mãos apertando as orelhas, como se temessem ser conspurcados pelo “ódio” que percebem em tudo o que discorda do discurso único de quem está no poder.
O único lado bom deste triste fenômeno é que ele ocorra justo agora, quando a esquerda está, graças ao bom Deus, perdendo o monopólio da política e da mídia de que gozou durante tantos anos. É uma tática desesperada, como a dos russos que arrasavam as próprias cidades à medida que recuavam, para negar abrigo ao inimigo.
Eles já perderam o domínio. Falta-lhes só reaprender a conversar.
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