| Foto: Lula Marques/ Agência PT

Se a nossa sociedade tivesse mais que uma vaga lembrança das suas origens, o dia de hoje deveria ser civilmente dedicado à capacidade de escolha consciente. É este o significado da Imaculada Conceição, que a Igreja Católica comemora nesta quinta-feira. Todos nós tendemos para um lado: o do mais fácil e gostoso, e azar de quem se machucar com nossos atos. A Igreja ensina que a Virgem Maria foi poupada disso. Ela pôde tomar decisões plena e perfeitamente consciente, sem ser levada pela maldade interna que cada um de nós tem.

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E o que mais vemos hoje em dia são decisões tomadas por gente com o rabo preso, presíssimo – dos deputados que tentam anistiar-se à sorrelfa e ministros do STF que tentam legalizar o aborto de uma canetada ao mais humilde picareta que tenta vender falsos bilhetes premiados, passando pelo sujeito que usou um cartão clonado para pagar o dízimo, pelo namorado mentiroso e pelas coisas que cada um de nós faz e só depois – se Deus quiser – lamenta. Todos nós temos o rabo preso em algum nível. Nenhuma de nossas decisões é jamais plenamente consciente.

Todos nós temos o rabo preso em algum nível

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É isso que torna necessário que uma sociedade tenha leis e reconheça o direito à propriedade e à vida, entre outros bens necessários. Se a sociedade como um todo não o fizer, cada um desses bens tomará uma forma desordenada, mas não deixará de existir. Na finada União Soviética, um ativo mercado negro provava a mentira da economia planificada e permitia que os cidadãos sobrevivessem. Nos EUA, os abortos de bebês negros conseguem ultrapassar em muitas áreas o já alto porcentual de jovens negros encarcerados. Na Coreia do Norte, a elite forma uma classe à parte na sociedade sem classes.

No Brasil, esta função civilizatória da lei positiva nunca existiu; a lei escrita aqui é arma dos poderosos contra os humildes ou simplesmente coisa para inglês ver. São os costumes que desempenham este papel. E, como as elites parecem estar num concurso de subversão, vai-se eliminando pela base o que antigamente se dizia “bons costumes”. O que sobra é o que vemos no noticiário: rara é a cidade com mais de uns poucos mil habitantes em que uma mulher possa andar sozinha à noite. Rara é a mulher que já não foi alvo, ainda que de forma leve, da mesma falta de civilidade que o dado anterior aponta. Raro é o bem que nunca esteve em risco, da maior fazenda à mais reles esferográfica.

Como não fomos preservados de desejar o mal nem temos uma lei positiva que possa sequer funcionar, precisamos dos costumes, desses mesmos costumes que vêm sendo loucamente atacados. Como um dos costumes já eliminados é o de cuidar do pobre, do órfão e da viúva, as vítimas dessa anomia crescente e sem consciência são as de sempre: mulheres, pobres, idosos e bebês.