O discurso politicamente correto descobriu um raciocínio falacioso que, na estrita medida do seu controle da mídia, pode censurar previamente qualquer manifestação conservadora. O mecanismo é o seguinte: lança-se uma campanha dizendo que o mar é gasoso e o céu é líquido, homens são mulheres se assim o quiserem, maconha é remédio, o absurdo que for. Vende-se em seguida esta campanha como sendo em prol de supostos direitos de alguém. Assim, o racismo evidente das cotas universitárias torna-se “proteção do negro”; o ataque à honradez feminina cometido por “marchas das vadias” e demais ocasiões de depreciação pública da dignidade feminina torna-se, de alguma maneira mágica, na cabecinha de quem as inventa, uma maneira de, paradoxalmente, aumentar esta mesma dignidade, e por aí vai.

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Devemos ser capazes de defender aquilo que temos por caro

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Num salto lógico ainda mais arriscado, verdadeiro twist carpado da argumentação, presume-se então que qualquer reação de indignação em função dos absurdos pregados – normalmente coisas inauditas um ou dois anos antes – é movida por ódio àquele que estaria supostamente sendo protegido. Desta forma, o cavalheirismo básico de oferecer um casaco para cobrir uma moça que protesta seminua torna-se machismo, um ato de ódio contra a mulher e contra a dignidade feminina. A indignação com a assunção que justifica as cotas universitárias, de que a inteligência é inversamente proporcional à melanina, torna-se, num verdadeiro golpe de judô contra as evidências e a lógica, uma forma de racismo, e dos piores: um racismo movido por ódio a outra “raça”.

Assim ficam todos pisando em ovos, com medo de ofender e ser acusado de “discurso de ódio”, discurso este que – próximo passo – mereceria censura prévia, e não teria direito de expressão. E isto em uma sociedade que lutou para se livrar da censura dos governos militares, em uma sociedade em que vicejam discursos verdadeiramente de ódio, como os apelos à luta de classes dos partidos de extrema-esquerda.

É no confronto que as ideias se burilam e a verdade sobressai acima do lixo. Calar a voz do adversário é sempre um truque sujo, e no mais das vezes ineficaz no médio e longo prazo. Ao contrário, devemos ser capazes de defender aquilo que temos por caro, assim como devem poder defender suas ideias os que querem modificar radicalmente a sociedade. Mas, para que isso seja possível, é necessário que haja debate, que nenhuma ideia seja considerada “discurso de ódio” por razões transversas. Mesmo o discurso de ódio verdadeiro acaba por se mostrar tão imbecil que ninguém com QI normal o adota. O racismo real é apanágio de boçais.

Precisamos de mais luz nos debates políticos, não de censura liminar.