Crianças pequenas não sabem as consequências de seus atos. Os pais, aflitos, tampam as tomadas, instalam telas nas varandas, fazem tudo o que for necessário para evitar que, inocentemente, os pequeninos se machuquem gravemente ou morram, por não serem capazes de prever as consequências do que fazem.

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Agora, contudo, parece que esta inconsequência alastrou-se para os adultos. Os mercados têm prateleiras sem fim de doces dietéticos, que teoricamente podem ser comidos sem qualquer consequência. Se não funcionar, sempre se pode recorrer a um balão inflável dentro do estômago. Os encarregados de rascunhar um Código Penal querem legalizar os bordéis e o crack, essas diversões inconsequentes, e permitir a eliminação final pelo aborto de qualquer consequência indesejada do prazer. Tornou-se normal pagar até metade do salário em prestações de coisas perfeitamente inúteis. Grupos de mulheres fazem passeatas seminuas, demandando que os estupradores – essas pessoas tão sensíveis ao clamor da opinião pública – não se sintam tentados por roupas sensuais. O debate sobre o Código Florestal opõe gente que parece querer que o país vire uma imensa selva, em que nada se planta, a quem parece achar possível transformar o país numa imensa plantação, desprovida de floresta. O próprio matrimônio foi reinterpretado pelo STF, tornando-se agora uma união inconsequente que diz respeito apenas a sexo e dinheiro.

Enquanto se é criança, é natural que ainda não se tenha aprendido que os atos têm consequências. Adultos, contudo, deveriam ser capazes de percebê-las e sopesá-las. Mas não; a reação mais comum da sociedade, no seu frenesi de prazer inconsequente, tem sido o ódio contra quem lembra este fato simples da vida. As senhoras semidespidas da "Marcha das Vadias" do Rio invadiram uma igreja na hora da missa das crianças, como se o pudor, não a psicopatia dos estupradores, fosse o verdadeiro problema. A prostituição já ganhou código na classificação de ocupações do Ministério do Trabalho, onde fica entre o sujeito que dá banho em cachorro e o que mata baratas.

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E ai de quem lembrar que, ao contrário da expressão, não se trata exatamente de uma "vida fácil", de uma "ocupação" tão desprovida de consequências físicas e psicológicas quanto as outras.

Essa infantilização do país faz com que se tema pelo seu futuro. Se é só o prazer que vale, se não quisermos ver as consequências dos nossos atos, dia desses o Brasil enfia de vez os dedinhos babados na tomada. Será que então vai adiantar chorar?

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